Tanto o senso comum quanto
alguns grupos bruxos de tradição celta parecem adotar como referência o ícone da
bruxa europeia medieval, um misto de sacerdotisa com xamã. Entretanto, estes
mesmos grupos bruxos consideram que as bases da bruxaria medieval são
pré-históricas e muitas vezes adotam a veneração a deuses cultuados na
antiguidade, portanto dentro do período histórico e anteriores ao período
medieval, cabendo ainda salientar que mesmo linhagens genuinamente europeias
ocasionalmente cultuam deuses não europeus.
O dicionário Aurélio parece
apontar especificamente na direção da antiguidade, sugerindo que a palavra bruxa
tem origem possivelmente pré-romana, o que nos leva a concluir que o conceito de
bruxa veio se alterando ao longo do tempo, bem como as características dos
grupos que representavam a bruxaria vieram se transformando. Ademais, em
diferentes períodos da história a palavra bruxa foi usada indistintamente para
seguidoras de alguma religiosidade pagã, feiticeiras, leitoras de oráculos e
curandeiras.
Diante de tamanha confusão
de conceitos, propomos a seguinte convenção, que doravante
adotamos:
1) em sentido estrito,
bruxas/bruxos seriam as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias
praticantes de magia que tenham sido elevadas ao terceiro grau da
bruxaria.
2) em sentido amplo,
bruxas/bruxos seriam: - as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas
europeias praticantes de magia que não tenham sido elevadas ao terceiro grau da
bruxaria; - todas as demais pessoas praticantes de técnicas similares às das
linhagens iniciáticas europeias mencionadas acima.
Com o surgimento da wicca em 1950, que se constitui numa fusão de bruxaria tradicional com magia ritual, e a divulgação pública de alguns princípios da bruxaria promovida pelo fundador da wicca, Gerald Gardner, e seus primeiros iniciados, podemos assinalar o início do neo-paganismo.
A partir de então, cultos
pagãos foram retomados nos moldes originais (reconstrucionismo) e diversos
grupos bruxos passaram a agregar informações e técnicas de outras origens a suas
crenças e práticas, o que se acelerou com a revolução informacional de fins do
século XX.
Raízes
A Bruxaria Ancestral resgata as raízes pré-históricas da bruxaria de um
tempo em que todas as formas de religiosidade se confundiam, milhares de anos
antes de a ciência, a religião e a filosofia serem consideradas campos
distintos. Representada pela Ordem Sagrada de Bennu, entidade cuja linhagem
bruxa remonta a tempos imemoriais pela Tradição Ibérica, a bruxaria ancestral
agrega conhecimentos de diversas origens, antigos e recentes, formando bruxos em
sentido estrito plenamente capazes de aliarem o conhecimento materialista atual
à sabedoria ancestral.
É anterior ao surgimento das Tradições e, por isso mesmo, a linha que liga
todas elas, a chave perdida do significado mais profundo de todas as tradições.
Não vem no intuito de substituí-las, mas de contribuir para a construção de uma
forma de religiosidade nova e antiga ao mesmo tempo, uma religiosidade que
atenda às demandas da civilização que, um dia, sucederá a atual.
Alguns grupos bruxos, considerando que religião requer uma estrutura
institucional centralizada, dizem que bruxaria não é religião.
A Bruxaria Ancestral entende por religião todo e qualquer conjunto de
técnicas, práticas ou conhecimentos que se proponham à religação do homem com
a(s) deidade(s). Neste sentido, nos classificamos como religião.
Além da reintegração da ciência com a filosofia e a religião num só corpo,
podemos destacar como nosso método fundamental para religação do ser humano com
as deidades a reinserção deste no universo, o que muitos chamariam de
reintegração à natureza, mas não com a profundidade e abrangência que nós,
bruxos ancestrais, a compreendemos. Aos leigos, podemos resumir muito de nosso
ponto de vista na mensagem de que a natureza não pertence ao ser humano, mas o
ser humano pertence à natureza.
Princípios
Pode-se dizer que o único valor da Bruxaria Ancestral é a verdade, e sua ética se resume à busca, à defesa, à transmissão e ao exercício da verdade. Não se trata, todavia, de defesa da sinceridade absoluta nem de dogma, sendo o primeiro o conceito mais corriqueiro da palavra verdade e o segundo o conceito abraçado pela maioria das religiões atuais. Da melhor compreensão do conceito de verdade, derivam os demais valores da Bruxaria Ancestral.
Livre-Arbítrio
Se chegarmos à compreensão de que mesmo um espírito iluminado, um mestre do
mais alto grau, tem uma visão limitada da verdade e/ou que não se pode
transmitir a visão da verdade de uma pessoa para outra sem grande desgaste do
conteúdo, havendo ruídos de toda a espécie em qualquer forma de comunicação,
tentar impor uma visão da verdade a quem quer que seja é mera demonstração de
ignorância acerca de sua própria ignorância, de incapacidade de aprender, de
estagnação ou degenerecência do processo de aprendizagem. Pode-se, e cremos que
deve-se, estar plenamente convicto da verdade sem apegar-se a ela e sem presumir
que visões aparentemente conflitantes com tal verdade estejam erradas. Na maior
parte dos casos, conforme nossa experiência, as divergências entre credos ou
teorias são: 1- semânticas; 2- preconceituosas; 3- mero fruto da ignorância
mútua de informações/dados pertencentes a áreas de especialização diferentes; 4-
resultado das muitas lacunas entre visões da verdade.
O livre-arbítrio como valor, para a Bruxaria Ancestral, assume, portanto,
uma dimensão bem maior que a simples "não imposição". Trata-se do reconhecimento
de que há alguma verdade no fundo de toda crença sincera, por mais louca que ela
aparente ser, e da fixação do veio central de nossa busca na verdade que não
conhecemos, e não na preservação da verdade que já conhecemos.
Este último pensamento pode parecer estranho à Tradição, mas na verdade tal
pensamento se encontrava na base do que viria a se tornar cada uma das muitas
tradições, e ao longo do tempo se perdeu.
O livre-arbítrio é também observado como a auto-avaliação, o julgamento do próprio executor do ato, levando-o às experiências necessárias para seu crescimento espiritual. Interferir numa escolha pessoal é, portanto, interferir no destino que a pessoa traça para si mesma, é negar uma experiência que a pessoa considera (na maioria das vezes não conscientemente) que precisa viver.
O desrespeito ao livre-arbítrio, mesmo sob a mais bem intencionada das bandeiras, é mera ilusão. A imposição se limita à esfera física, ou seja, pode-se obrigar alguém a praticar ou deixar de praticar os ritos de uma religião, ou ainda a deixar de cometer crimes, por exemplo. Mas isto não tornaria o praticante da religião em adepto nem o criminoso numa pessoa com espírito comunitário. O recurso da imposição pode ter efeito prático para a comunidade, mas não para o indivíduo.
A compreensão do livre-arbítrio sob esta óptica nos permite, ao mesmo tempo
que fechamos as portas às pessoas que desejam apenas pinçar em nossas fontes
informações para uso prático para fins estranhos à nossa visão da verdade,
escancará-las a novas idéias, conceitos e práticas, desde que se revelem
coerentes com nossa verdade. Assim, a visão que temos pode crescer e se
aprofundar, sempre se pautando pelo entendimento, pela concordância, pela
aproximação, e não pelo conflito ou divergência.
Livre-arbítrio não é escolher entre "certo e errado", livre-arbítrio é
traçar seu próprio caminho mesmo quando o caminho escolhido for o de muitos
outros. Para a Bruxaria Ancestral não existe certo e errado, existem apenas
caminhos mais longos e mais curtos, mas cada um tem o seu caminho a percorrer,
todos eles com muitas idas e vindas ao sabor dos ciclos. Por vezes corremos, por
vezes andamos lentamente, por vezes tomamos atalhos e depois retornamos para
resgatar o que ficou para trás, mas como diria Nitzsche, o homem é uma ponte
entre o ultraterreno e o super-homem, e tem de se manter sempre em movimento
para não cair desta ponte. Talvez possamos apenas acrescentar que este
super-homem que almejamos ser torna-se, a cada passo, diferente, mantendo sua
distância de nós até atingirmos a perfeição (e sermos absorvidos pelo Todo). Da
mesma forma, o ultraterreno é o modelo ultrapassado, mas a cada passo o
ultrapassado se torna outro, e assim se preserva a distância para trás da mesma
forma que a para a frente à medida que caminhamos. Dentro desta metáfora, o
exercício do livre-arbítrio é o caminhar. Sem ele, podemos ter a ilusão de
estarmos seguindo junto com a correnteza, mas na verdade estamos estagnados,
estamos cegos, pois o que não é feito sem surgir a partir de seu mais profundo
íntimo é feito mecanicamente, e o que é feito mecanicamente não é transportado
ao espírito. Se não tomamos as rédeas de nosso destino, se não fazemos escolhas
e as delegamos a outrem, seja a um lider espiritual ou a um dogma, não estamos
nos aproximando de verdade alguma, nosso corpo se move, temos sensações mas
somos sempre os mesmos. É da crítica ao dogma e da tentativa de compreensão do
que nos diz o mestre, mesmo quando o mestre é a própria natureza, que surge a
luz.
Por fim, percebemos quão intimamente relacionados estão o livre-arbítrio e
a verdade. Praticar o livre-arbítrio é buscar, se aproximar e concretizar a
verdade.
Dogma Fundamental
Já mencionamos antes que consideramos que a natureza não pertence ao homem,
mas que o homem pertence à natureza. Muito embora tenhamos por base argumentos
racionais para considerar que o ser humano não é mais importante ou melhor que
qualquer coisa existente na natureza, esta crença, que nos leva a rechaçar
frontalmente o antropocentrismo, é uma característica distintiva tão importante
que acabamos por considerar a igualdade de importância entre todas as formas de
manifestação da natureza como nosso dogma fundamental.
Desde meados do século XX se fala em defesa da ecologia. Os povos antigos
preservavam a natureza e, na óptica utilitarista da civilização atual,
considera-se que é importante preservar a natureza em função da necessiade de
manutenção da sustentabilidade da vida humana na Terra.
Ao observarem o quanto alguns povos antigos se preocupavam com a natureza,
os cientistas revelam a mesma óptica utilitarista ao repetir em coro que os
antigos faziam isto porque se encontravam mais que nós à merce dos fenômenos
naturais. Mais um pouco de atenção e perceberiam que não se tratava de
preocupação com a sustentabilidade da vida humana ou medo da natureza. Pelo
contrário, as mais diversas tradições parecem acusar a existência de respeito e
amor pela natureza.
Ao longo dos últimos milênios, o ser humano veio criando para si um
conceito de ser superior, de ser acima da natureza, e se convenceu de que tal
natureza estaria a seu dispor.
De fato, havemos de concordar, "a natureza" está ao dispor do homem, mas
temos que acrescentar dois pontos: 1- o homem também está ao dispor "da
natureza" e 2- o homem pertence à natureza.
Ao criar para si um conceito de "ser à parte de todo o resto da criação", o
ser humano parece se esquecer que seu corpo se compõe dos mesmos elementos de
que se compõem as pedras, os vegetais e os outros animais; não comenta que ao
desencarnar devolve à terra o que dela retirou; não pensa sobre o fato de as
primeiras células de seu corpo, portanto sua própria origem como ser humano, ter
resultado de um mero ato sexual; que o mecanismo que leva o ser humano a causar
danos ambientais é o mesmo que leva uma nuvem de gafanhotos, por exemplo, a
destruir lavouras; que uma só explosão de um supervulcão, e já houve diversas na
pré-história e com certeza ainda haverá no futuro, afeta muito mais danosamente
o equilíbrio ambiental do que qualquer coisa que o homem tenha feito até hoje
sobre a face da Terra.
Se o ser humano tem "algo mais" que os animais, esta é uma longa discussão
que não cabe aqui, mas, independente da resposta, permanece o fato de que o ser
humano (e este só é ser humano enquanto encarnado) não é mais que uma variável
da natureza.
A Bruxa Ancestral não "defende a natureza", ela faz parte da natureza. A
única diferença em relação a muitas outras crenças é que estamos conscientes
disto, portanto, podemos nos situar junto ao resto da criação e nos irmanar
tanto com humanos quanto com os demais animais, com vegetais e mesmo com
minerais ou poeira cósmica.
Aos que reafirmam que a natureza está a nosso dispor, e não nós a seu
dispor, como preferimos interpretar, concordamos desde o início que o corpo
humano serve ao espírito que nele habita. Se, o que não achamos apropriado,
considerarmos uma entidade desencarnada como um homem, negando que ele só é um
homem se e quando encarnado num corpo de homem, ou seja, se desvincularmos o
espírito do corpo e chamarmos de homem o espírito, então diremos que os
elementos do plano físico (inclusive o corpo do homem) servem ao homem (o
espírito encarnado), mas jamais diremos que a natureza serve a tal espírito,
pois a natureza não se resume ao conjunto dos elementos físicos, ela alcança
todos os planos do universo manifesto e engloba as relações entre seus elementos
e as leis que a tudo regem.
Considerar o ser humano como um ente à parte da natureza limita o campo de
busca da verdade ao próprio homem. Integrar-se à natureza, por outro lado,
permite ao espírito lançar um olhar para a verdade que está além do alcance do
homem
A bruxaria ancestral não considera a passagem do tempo de forma linear, ou
seja, não considera que o tempo se acumula, mas que ele gira como uma Roda, que
ao longo da translação da Terra ao redor do Sol repassa por cada um dos mesmos
velhos pontos. A esta Roda, chamamos Roda do Ano, e ela é dividida em oito
períodos marcados pela comemoração de quatro grandes sabates (com datas fixas) e
quatro pequenos sabates (em solstícios e equinócios), que apresentamos adiante.
Ao mesmo tempo, são comemoradas até treze lunações, através de esbates. Apesar
do sistema diferente, o calendário gregoriano também foi feito com base em
fenômenos astronômicos, e nos serve de referência na identificação das
comemorações dos grandes sabates. Fixamos, entretanto, a data de início 20.000
anos antes do século profano em que entramos na Era de Aquário, época em que a
bruxaria era a referência comum a todos os povos da Terra.
Esbates
As três faces da Deusa se apresentam sucessivamente à medida que a Lua
cresce e decresce no céu. Assim, ao longo de uma lunação, há o momento de
plantar, de colher e de ceifar. A cada Lua Cheia realizamos um esbate para
acertarmos o ritmo de nossas vidas com a natureza, mas nada impede que um
círculo que adote a Veneração Ancestral, por algum motivo específico, celebre
ocasionalmente também alguma outra fase da Lua, muito embora aconselhemos não
celebrar a Lua Negra (quando a Lua está do outro lado da Terra durante a
noite).
O intuito de celebrar sabates e esbates é ajustarmo-nos ao movimento da
Roda do Ano, ou seja, vivermos em nossas vidas a estação que o resto da natureza
vive, a cada momento. Neste sentido, adotar a Roda Egípcia seria ineficaz, pois
a cheia e a vazante do Nilo não influem em outras regiões do planeta. Da mesma
forma, para quem está no hemisfério sul, celebrar os sabates nas datas
celebradas no hemisfério norte não ajudaria a se colocar em fase com o Ciclo da
Natureza, pois quando é verão em um hemisfério, é inverno no outro. Optamos,
portanto, pela comemoração dos sabates de forma similar à da Roda do Ano Celta e
conforme o hemisfério no qual estivermos.
Tempo dos Idos (1º/mai no hemisfério sul e 31/out no
hemisfério norte) - O ano bruxo se inicia no frio e escuro meio do outono. Nesta
data se celebra o Tempo dos Idos, conhecido pela tradição celta como Samhain. Na
verdade, no dia deste sabate se considera que o ano acaba, mas por três dias o
outro ainda não começa. E como se passa a estar fora do ano que se foi e o outro
ainda não começou, trata-se de um período fora do tempo, onde vivos e mortos,
bem como seres naturalmente desprovidos de corpo físico, podem se
encontrar.
Festa do Inverno (20 a 23/jun no hemisfério sul e 20 a 22/dez
no hemisfério norte) - A Festa do Inverno, Yule, pela tradição celta, é
comemorado no solstício de inverno, menor dia do ano, mas, justamente por isso,
é o momento de renascimento do Sol, ou seja, a partir da celebração da Festa do
Inverno os dias começarão a crescer. É, por assim dizer, o "natal" dos
bruxos.
Festa das Candelárias (1º/ago no hemisfério sul e 2/fev no
hemisfério norte) - Na noite que prescede Candelárias, os bruxos carregam velas
acesas em procissão, representando a vida que começa a ganhar força sob as
neves, a luz que ainda é fraca para afastar o frio e as trevas, mas que já se
encontra em seu caminho. É um tempo de renovação das esperanças.
Festa da Primavera (20 a 23/set no hemisfério sul e 20 a
23/mar no hemisfério norte) - Os sinais que, em Candelárias, eram vistos apenas
pelos sábios, se tornam visíveis a todos com o equinócio de primavera. A vida já
começa a florecer, e os bruxos celebram o efetivo retorno do Sol. É a páscoa dos
bruxos, e os elementos que a representam são os mesmos: ovos e lebres,
respectivamente símbolos da origem da vida e da fertilidade.
Beltane (31/out no hemisfério sul e 1º/mai no hemisfério
norte) - Abrindo a Metade Clara da Roda do Ano. O Sol se encontra jovem e forte,
fertilizando os campos e aquecendo nossos sentimentos. De dia, o mastro de maio
é levantado e as crianças dançam ao redor dele com fitas coloridas que se
entrelaçam. Nas comunidades bruxas, uma música é tocada e uma fila de
festejantes entra e sai das casas dançando, levando alegria e boa sorte a todos.
À noite, os adultos acendem uma grande fogueira e dançam ao redor dela assim
como a Terra gira em torno do Sol. Celebram o calor e o amor, casais se amam ao
luar, pulsando a energia da vida que abunda neste dia/noite especial.
Festa do Sol (20 a 23/dez no hemisfério sul e 20 a 23/jun no
hemisfério norte) - No solstício de verão se comemora a plenitude do Sol. O
sabate chamado Litha pela tradição celta é caracterizado pela abundância de
alimentos, pois se trata da época da primeira colheita. É o momento em que as
bruxas colhem suas ervas especiais, pois trazem com elas o máximo que poderiam
absorver do poder solar. Embora seja também um momento destinado aos prazeres,
ao contrário de Beltane, a Festa do Sol marca o auge e, em conseqüência, o
início do declínio do poder solar, pois a partir do solstício de verão os dias
começam a se tornar mais curtos. Portanto, deve-se aproveitar a Festa do Sol
para marcar firme na lembrança seu maior esplendor e tudo aquilo que ele
proporciona, para que, em momentos de dificuldade, tenhamos um horizonte menos
sombrio ao olhar para futuro.
Festa da Cornucópia (2/fev no hemisfério sul e 1º/ago no
hemisfério norte) - Conhecido como Lammas, pela tradição celta, na Festa da
Cornucópia a mesa é farta, abastecida pela principal safra do ano. Colhem-se os
frutos deixados pelo Sol e se comemora a abundância, centrando-se nos prazeres
gastronômicos.
Festa das Graças (21/mar no hemisfério sul e 22/set no
hemisfério norte) - No equinócio de outono se comemora a última colheita. A
tradição celta chama a este sabate de Mabon. Agradece-se à Deusa e ao Deus pelo
que nos proporcionaram e, quem pode, partilha alguns víveres com aqueles que
tiveram menos sorte, mas todos nos preparamos para a virada da Roda, pois no
sabate seguinte começa a Metade Escura. Os dias já se tornaram menores que as
noites, e o Sol, assim como a vida, logo começará uma espécie de período de
hibernação.
Prática
A rotina da Bruxaria Ancestral não difere muito da de outras vertentes de
Bruxaria Tradicional. Comemoramos sabates e esbates para facilitar caminharmos
de acordo com o fluxo da natureza, meditamos e estudamos, visando nossa evolução
espiritual e, eventualmente, praticamos diversas modalidades de magia, não para
prejudicar outras pessoas, mas para interceder a favor de seu aprendizado e
promover o bem comum.
Consideramos que, assim como ocorre com a acumulação de qualquer tipo de
poder, a responsabilidade de usar a magia é tão grande quanto o poder mágico que
se obtém. Poder agir e não agir é tão danoso quanto errar ao agir. Todavia, para
julgarmos corretamente se e quando devemos interferir no desenrolar dos fatos,
seja através de magia ou não, é preciso observar a questão por uma óptica
expandida, ou seja, considerar não o sofrimento imediato da(s) pessoa(s)
envolvida(s), mas a utilidade da experiência pela qual ela está passando para
seu aprendizado. Tendo isto em mente, é absolutamente inadequado aplicar os
conceitos de bem e mal cristãos para decidir quando, como e se devemos intervir
no que se passa.
Resumindo................
Bruxaria ancestral - Raiz comum a todas as tradições bruxas;
conjunto de conhecimentos, práticas e crenças que serviram de base à formação do
esoterismo das primeiras tradições de cunho religioso desta civilização a partir
do fim da última Era Glacial.
Bruxaria hereditária - Tradição bruxa passada exclusivamente
dentro de linhagem familiar; bruxaria familiar; magia característica de bruxas
hereditárias.
Bruxaria moderna - Tradição bruxa cuja linhagem se originou
após a Idade Média; magia característica de bruxas modernas.
Bruxaria tradicional - Tradição bruxa cuja linhagem se
originou durante ou antes da Idade Média e não foi interrompida; magia
característica de bruxas tradicionais.
Bruxaria verde - Conhecimentos e práticas da bruxaria ligados
aos diversos usos das ervas, em especial, e de plantas, em geral.
VENERAÇÃO ANCESTRAL
O Sistema da Veneração Ancestral não pode ser divulgado abertamente.
Conhecer Deusas e Deuses é ter acesso a energias que fogem do escopo da
compreensão científica e que requerem um aprendizado cuidadoso para que não
revertam em prejuízo ao aprendiz e/ou a quem lhe rodeie. Tendo isto em mente,
divulgamos aqui apenas algumas poucas informações sobre uma Deusa e um Deus
venerados na Ordem Sagrada de Bennu, reservando informações mais
completas sobre o sistema da Veneração Ancestral aos adeptos.
Para melhor compreensão, é preciso alertar que deidades ancestrais não são
deidades egípcias, nem pré-colombianas, nem indianas, nem chinesas ou
polinésias, mas deidades pré-glaciais que serviram de modelo para a criação de
deusas e deuses destas e de muitas outras antigas civilizações. À medida que as
condições ambientais mudavam, tais deidades foram tendo seus atributos
desmembrados entre deuses pós-diluvianos. Notamos ainda que, em alguns aspectos,
deuses de civilizações pré-colombianas guardaram, com maior precisão que os
egípcios, a face original dos deuses Ancestrais; noutros aspectos, deuses celtas
fizeram ressurgir com maior fidedignidade alguma face de uma deusa ou de um deus
ancestral, mas para compreender as deidades ancestrais temos de olhar para um
passado mais longínquo e ao mesmo tempo para o futuro.
Ao longo da descrição dos atributos das deidades se observará
ocasionalmente a expressão "conforme revelado". A revelação ocorre quando um
adepto, em estado alterado de consciência, recebe uma mensagem diretamente das
deidades. Isso pode parecer mistificação, mas a revelação é uma forma de
aquisição de informações comum a muitas formas de religiosidade, muito embora
deva ser recebida com extrema cautela afim de minimizar o risco e ser mera
criação do adepto ou de ter sido uma informação transmitida não por deidades,
mas por alguma entidade ou qualquer estímulo presente.
A Deusa
Hator, conforme revelado, é a Deusa. A grosso modo, compõe-se como Deusa
tríplice, sendo que partes de cada um de seus três aspectos fundamentais
correspondem às deusas egípcias Hathor, Ísis e Nut. Hathor, a Deusa da alegria e
da dança; Ísis, o trono sobre o qual se sentava o faraó, a verdadeira sede de
seu poder; Nut, o céu sob o qual o mundo foi criado, o firmamento onde a criação
se deu. Na Veneração Ancestral, Hator (repare a grafia sem h, conforme revelado)
é a amante e menina, a mulher e a terra (diferente do panteão egípcio, onde a
terra é Geb, seu consorte), a mãe e o céu; é a alegria que muitos esquecemos na
infância, a responsabilidade e o amor maternos, ao mesmo tempo é a sensualidade
desprovida de malícia, a dedicação não submissa, o calor envolvente de um abraço
sincero. É Hator que dá a vida, é dela que tudo provém. Dela nasceu o próprio
Deus, em seu ventre Ele se deita, em seus seios se alimenta e do vazio de seu
útero Ele ressurge.
Na Veneração Ancestral é costume representar Hator na forma humana da
Hathor egípcia (imagem ao lado), uma mulher de pele morena e quente, magra com
belas formas, olhos escuros e olhar muito vivo. Suas feições são muito
semelhantes às representações de Ísis e, assim como ela, porta sobre a cabeça o
disco solar dentro do arco lunar, que é a representação de ser a gestadora do
Deus solar. As formas alternativas da Deusa egípcia Hathor, por outro lado, seja
como vaca ou como mulher com orelhas de vaca, evocam apenas uma das três faces
primárias da Hator ancestral.
O Deus
Kher-Nun, conforme revelado, é o Deus. Ele é o poder fertilizador, o Senhor
das Florestas e da virilidade. É a força da vida e o Sol que abençoa a
vegetação. Não se trata de um Deus duplo. A forma humana das águas primordiais,
chamada pelos egípcios de Nun (imagem ao lado), representa apenas o que os
egípcios conseguiram manter em sua lembrança do corpo do Deus ancestral (não
apresentamos ou descrevemos aqui a imagem de Kher-Nun adotada pela Bruxaria
Ancestral), mas seu espírito é Kher, a palavra, o poder da palavra, o poder do
discurso, o sacerdote que comanda a palavra, a voz que comanda os exércitos, a
vitalidade que move a matéria, o calor que anima. A vida nasceu das águas
primordiais sob o comando de Kher-Nun, Ele estava no início dos tempos sob Nut
(o céu), cobrindo toda a terra. Em seu corpo abrigou os seres das águas e do
fogo, assim como, mais tarde sustentou os da terra e os do ar. Tal e qual Khnum
(Deus das cheias do Nilo), ele, ainda hoje, molda o corpo dos homens a partir do
barro, mas vai além disto, pois molda todos os seres e todas as formas, desde as
pedras até o ar. Ele não dá a vida, mas ele constrói a vida e a preserva. Seu
poder é imenso e se manifesta de forma constante e firme, não de forma
abrupta.
Enquanto no Egito, com a desertificação do norte da África, Kher-Nun caia
em esquecimento como o distante Nun da cosmogênese, sendo seu caráter principal
resgatado mais tarde na forma de Khnum (aquele que traz a lama que fertiliza o
Nilo), na Europa, tornou-se Cernunnos, uma versão muito mais agressiva e bestial
do que era em tempos pré-glaciais. Todavia, não é só o nome que denuncia a
ligação, os traços principais estão ali: os chifres da virilidade, o Senhor das
Florestas e da vida que ali existe, seja animal ou vegetal. O Sol e a água, a
antiga receita da agricultura numa terra originalmente de
caça.
Bruxos, Magos e a Essência da Bruxaria
Sempre soube que bruxos e magos são como azeite e vinagre, mesmo quando
juntos, jamais se misturam,para falar sobre isso e de tal simplicidade emanou
cristalina a natureza da essência da bruxaria original, uma essência
escandalosamente incompatível com o dogma mais fundamental da Alta Magia
(prática dos magos), um dogma que se encontra também incrustado na lógica e na
ética da civilização judaico/cristã.
Em palavras simples, magos, judeus e cristãos consideram que o ser humano é
"superior" e portanto "mais importante" que os demais seres vivos. Crendo
sinceramente nisto, religiosos e ateus se irmanam na apropriação de vidas em seu
benefício, levando a dor e a morte a rebanhos incontáveis, dizimando florestas e
alterando a face do planeta, bem como diversas camadas da atmosfera, como se
estivessem apenas consumindo um presente que receberam.
Diante da inexorável resposta de Gaia, alguns levantam o primeiro véu de
seus delírios de "ser superior" e se dão conta de que pelo menos precisam da
natureza para viver, lançando-se em campanhas ecológicas que tem por mote
principal os riscos que o ser humano corre ao não respeitar a natureza.
Magos podem ser entendidos como os ocultistas da tradição judaico/cristã.
Suas bases são a cabala judaica e toda a lógica que seguem também se fundamenta
no antropocentrismo, na presunção de que o ser humano é o ápice terráqueo da
manifestação divina e que, por isso, poderia ou até mesmo deveria comandar tudo
o que aqui se passa e existe. Os magos criaram uma categoria de magia para si
mesmos, à qual chamaram Alta Magia, e consideraram os bruxos como praticantes da
"Baixa Magia", como se alguém dissesse por aí: eu pratico baixa magia!!!
Toda a operação mágica de magos é calcada na crença na superioridade
humana, pois o mago controla os elementos e os coloca a seu serviço; escraviza
entidades e lhes designa missões; dispõe da natureza visível e invisível
conforme considerar conveniente para si ou seu grupo.
Em seu discurso, dizem atuar sob os desígnios divinos, mas na prática
parecem considerar a si mesmos como a divindade, e assim a vontade divina se
confunde com a vontade do mago.
Ao observar o momento nos céus, os magos pensam em seu potencial de magia;
ao conhecer as plantas, pensam em sua utilidade; quando as portas de outros
planos de existência se abrem para eles, vão em busca de entidades que lhes
possam ser úteis no desempenho de "missões" ou as intimidam por mera
diversão.
E o bruxo com isso?
Nada.
Nada porque a base mais fundamental da bruxaria, aquilo que distingue mais
claramente o bruxo de todos os demais humanos, incluindo pretensos bruxos
enganadores e enganados, é a percepção de que o ser humano é apenas mais um grão
de poeira neste imenso cosmos, visível e invisível. E em decorrência disso, se
sente um com a natureza, não seu proprietário; observa o caminhar aparente da
Lua e do Sol como sinais do Grande Ciclo, não como oportunidades; olha para as
plantas com amor, não com ganância; conhece outras entidades com respeito e
interesse, não com espírito imperialista.
Talvez não esteja suficientemente claro o que seja "ser um com a natureza"
para um bruxo, assim como não deve estar claro o quanto consideramos a natureza
sagrada.
Afirmamos tais coisas sem subterfúgios, não achamos que, em meio à
natureza, o ser humano mereça papel de destaque ou predominância. A simples
pretensão de superioridade ou "papel de gerente" é por si só incompatível com a
ideia de integração do homem à natureza. A tão propalada, hipervalorizada
inteligência humana não sobreviveu ao teste do tempo (enquanto os dinossauros
estiveram no topo da cadeia alimentar por 300 milhões de anos, o homem
civilizado não tem mais de 9 mil anos) nem das grandes catástrofes (o último
evento catastrófico de escala global foi a explosão do supervulcão Toba, há
aproximadamente 60 mil anos). No que concerne aos dados de que podemos dispor,
sobre desastres de menor expressão, de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro
até o tsunami de 2004 no Oceano Índico, animais não humanos tem sido mais
eficazes do que nós, com toda nossa tecnologia, em antecipar, se proteger e
sobreviver a catástrofes.
Mas perceba que falamos disso para quem não vê como nós apenas para mostrar
a falta de sentido em se pretender que os humanos sejam superiores, porque para
um bruxo, pouco importa ter poderes ou capacidades, isso não fará de ninguém uma
deidade. Somos seres ínfimos assim como qualquer ser vivo. Nossos poderes são
ridiculamente patéticos se comparados aos de uma inanimada nuvem de poeira
cósmica. Nossos sentidos captam uma faixa de frequência muito inferior à de
outros seres vivos e ainda assim se somarmos todos os sentidos extremos de todos
os seres vivos, chegaríamos a uma fração desprezível de tudo o que efetivamente
nos cerca. O ser humano vive em condições muito restritas de gravidade,
temperatura, luminosidade, radiação dependendo de uma atmosfera pateticamente
fina se comparada ao diâmetro do planeta Terra. E o próprio planeta Terra, se
estivesse um pouco mais próximo do Sol ou um pouco mais distante, se girasse um
pouco mais rápido ou um pouco mais devagar, se tivesse um campo magnético um
tanto mais fraco, não teria condições de sustentar a vida.
Mas isso não incomoda um bruxo, porque somos parte de tudo isso que nos
cerca, e buscamos a harmonia com todas as manifestações da criação. Ao pó
retornamos, diz o padre no último adeus. Não se apercebe de que ele ainda é pó,
que todos nós somos pó, tudo é pó, ás vezes brilhando ao Sol, ás vezes orvalhado
à luz da Lua, mas ainda assim, nada mais somos do que pó.
Revisão do Conceito de Paganismo
Virou lugar comum dizer que paganismo é a crença dos camponeses, crença
da gente do campo. Este velho discurso introdutório está na boca de curiosos, de
autodidatas, de membros e representantes de organizações bruxas e até mesmo nos
lábios de sumo-sacerdotes/sacerdotisas bem como de representantes de tradições
bruxas da atualidade. Todavia, paganismo não é crença de camponês nem mesmo em
sua origem, o que dirá na atualidade...
Numa reunião aberta, curiosos, praticantes e estudiosos da bruxaria se
voltam para o palestrante, que com ar enfadonho de quem declara o óbvio, como se
fosse uma verdade já cristalizada e de conhecimento comum, diz: “Paganismo vem
da palavra latina paganus, que significa camponês, então, paganismo é a religião
dos camponeses, a religião da gente simples do campo, a religião do
povo.”
Na igreja, uma senhora idosa credenciada pelo pároco ensina aos
candidatos a padrinhos: “tem gente que diz que é pagão ou neopagão, mas não são
coisa nenhuma. Se foram batizados, não são pagãos, não importa o que digam por
aí.”
Ora, tanto wiccanos quanto cristãos podem compreender e usar as palavras
pagão e paganismo com os sentidos que bem entenderem, conforme lhes seja útil,
mas, sem sombra de dúvida, estes significados foram adquiridos por derivação,
estando muito distantes do significado original. Ao menos para nós bruxos
tradicionais, vale a pena retomar o sentido original da palavra pagão. Quem sabe
os wiccanos também chegam à mesma conclusão após ler este texto...
Paganismo vem sim da palavra latina paganus, mas podemos traduzi-la
melhor como aldeão do que como camponês. Na época do Império Romano, aldeão e
camponês eram conceitos praticamente indistintos, as aldeias ficavam no campo e
as crenças presentes nos poucos centros urbanos eram inspiradas na cultura
romana ou grega, pouco tendo a ver com a cultura do povo local. Prosperava quem
se integrasse ao modus vivendi romano. Hoje, aldeão é quem mora num pequeno
centro urbano, mas ainda assim um centro legitimamente urbano; e camponês, quem
mora no campo.
Ainda assim, paganismo não é a cultura de quem mora ou morava em
pequenos centros urbanos. Para compreender isso, precisamos recuar mais no tempo
e analisar a palavra grega para pagão.
Em grego, lingua mãe do latim, pagão é xênos, que também significa
estrangeiro.
Nada mais lógico para o contexto, pois o paganismo seria a crença do
estrangeiro.
Mas que estrangeiro seria este?
Não o cristão, pois o cristianismo ainda não existia; não o muçulmano,
pois o islamismo ainda não existia. O que havia era a religião de cada local, a
religião da terra do estrangeiro.
Muito lógico para uma época pré messiânica, em que a religião era uma
expressão cultural de um povo. Assim era com os judeus, assim era com cada
cidade do Egito antigo mesmo após a unificação, mesmo após a invasão árabe e
ainda durante a dinastia Ptolemaica, e assim foi com os povos conquistados pelo
Império Romano até a conversão compulsória ao cristianismo.
Paganus vem de pagus, e pagus significa terra. Terra não no sentido de
área rural, como já ouvi alguns dizerem, mas no de espaço geográfico, o que é
plenamente coerente com o conceito grego de pagão.
Para os romanos, como conquistadores do mundo de sua época (ignoravam os
orientais, os autóctones americanos e a maior parte dos africanos subsaarianos),
pagão era aquele que mantinha a religiosidade típica da região conquistada, não
adotando os Deuses romanos (posteriormente o cristianismo), ou seja, paganismo
era nada mais que a religião do povo local.
Considerar o paganismo como a religião da gente simples do povo é,
portanto, mais do que um embaraço com as palavras, é um erro que traz o risco de
ignorar um dos fundamentos mais universais do paganismo: o respeito às
especificidades locais da religiosidade, o espírito da terra que fala através de
seus habitantes.
Paganismo, para nós bruxos ancestrais, assim como para os antigos
romanos, é o conjunto de crenças locais, a forma de religiosidade autêntica
encontrada em cada grupo cultural. Ele pode ter um eixo comum a quase todas suas
expressões, mas buscar incutir uma só forma de expressão a diversos povos e
regiões é a mera reprodução do que fizeram/fazem o cristianismo e o islamismo,
nada além de aculturação.
Mestres Bruxos
O que o aprendiz espera de um mestre? Qual a missão de um mestre?
Precisamos de um mestre? Que riscos corremos sem ele? Existe o mestre
embusteiro, o falso mestre? Que riscos corremos nas mãos dele?
Mestres bruxos costumam ser idealizados por aprendizes como seres
sobre-humanos, fontes inesgotáveis de proteção e sabedoria, espíritos que emanam
bem estar e segurança com sua simples presença física, seres que demonstram seus
dons incomuns e seu domínio sobre técnicas que fogem completamente ao alcance da
ciência. Os aprendizes geralmente esperam dominar o que seu mestre domina,
despertar em si seus dons maravilhosos e conseguir sua sabedoria. Se acham no
caminho de aprender a bruxaria mas se colocam na posição de ovelhas suplicantes
por um pastor que lhes dirija. A maioria não vai ao encontro do mestre buscando
por esclarecimentos, ao contrário, ficam no aguardo de comandos, instruções, e
acreditam que, se lhes seguirem as palavras, um dia o mestre reconhecerá seus
esforços e lhe dará em um toque o domínio sobre os elementos, os sentimentos, a
mente e, quiçá, o espírito.
Não poderiam estar mais enganados. Em primeiro lugar, iluminados ou não,
mestres são pessoas sábias, mas como encarnados, vivem os mesmos dramas diários
de qualquer um. Sua missão não é passar o conhecimento sagrado, isso pode
ocorrer como pano de fundo, mas o que os mestres realmente buscam é fazer com
que o aprendiz aprenda a caminhar sozinho. Ao contrário do que muitos pensam, a
maior prova de sucesso de um mestre é ser superado por seus iniciados. Mas as
glórias, assim como as derrotas, dependem muito pouco do mestre. Cabe ao
aprendiz aprender; ao mestre, orientar. Digo e repito, sem cansar, que a
caminhada é sempre solitária, que o aprendiz, por mais que esteja sendo
orientado, tem de caminhar sozinho para aprender. Um mestre que leva o aprendiz
sobre os ombros não está atuando como um mestre, não está ensinando o aprendiz a
caminhar. Mas é sensato prescindir de um mestre e caminhar sozinho desde o
início?
Mestres são dispensáveis, mas se não o tivermos, corremos riscos que não
precisaríamos correr. Quem tenta acessar alguma área reservada do site da Ordem
Sagrada de Bennu é direcionado para uma página com a imagem de uma caveira sobre
um caldeirão sob o qual está escrito: "Cuidado, bruxaria sem mestre gera risco
de doenças, loucura e morte." Isso não é uma brincadeira, é um aviso, pois o
risco é verdadeiro. Estranho que os livros de bruxaria alertem tão pouco sobre
isso quando o assunto é uma constante em livros de alta magia e de teosofia. Ao
despertar em si processos desconhecidos, a transformação pode não ser bem o que
se esperava; além de o mestre poder evitar armadilhas em que caímos no processo
de aprendizagem, algo não previsto nos livros aos quais a pessoa tem acesso pode
acontecer, e nestes casos, a quem o aprendiz vai recorrer se não tiver um
mestre?
Uma criança não deixará de chegar à idade adulta por ser órfã desde cedo,
mas isto não significa que crescer sem pais seja uma opção preferível.
A confusão não termina aí. Muitas pessoas que se acham 100% independentes,
que se consideram bruxas solitárias, não se dão conta de que adotam mestres
temporários quando assistem a palestras, participam de rituais abertos, de
eventos pagãos, de comunidades bruxas, de dinâmicas ou vivências esotéricas. E
aí pululam falsos mestres, embusteiros que, bem ou mal intencionados, só ampliam
o risco, vampiros de toda a espécie e crianças que expõem a si e aos outros a
situações perigosas.
Um mestre não é alguém a quem se deva "obediência", é alguém que nos
ensina, alguém que ouvimos com atenção, alguém em quem acreditamos e, pelos
menos em algum aspecto, admiramos. Não estabelecer um vínculo iniciático com
ninguém não é sinônimo de não ter mestres. Então, escolham bem seus mestres,
mesmo quando optar por não se afiliar a nenhuma linhagem bruxa. Afinal, é mais
fácil encontrar embusteiros posando de mestres em rituais públicos do que
fechados em coventículos; o sábios não são dados a pavonices, preferem qualidade
a quantidade, não precisam nem querem provar nem a si mesmos nem a ninguém que
são bons, querem apenas ser úteis.
Então existem falsos mestres?
De um certo ponto de vista, sim. Poderíamos, talvez, chamar de falsos
mestres aqueles que não têm sabedoria, aqueles que atuam visando o benefício
pessoal, mesmo quando tal benefício seja apenas a promoção pública, mesmo quando
não busquem nada além de afagos egóicos ou reconhecimento de méritos
inexistentes.
Mas por que ainda resta dúvida se devemos chamá-los de falsos
mestres?
Porque mesmo que eles não tenham jamais aprendido aquilo que pretendem
ensinar, aqueles que se acercam de embusteiros o fazem porque precisam, na fase
em que estão, de duras lições, lições que aprenderão da pior forma possível,
sendo enganados, explorados e vampirizados.
Quando acordarem do pesadelo, ainda que levem muitas vidas para acordar,
poderão identificar com muitíssimo mais clareza o que é sábio e o que é
estúpido, e seguirão lépidos a favor da correnteza.
Crianças ganham anti-corpos ao lidarem com a sujeira; aprendizes ganham
clareza mental ao lidarem com embusteiros.
O Olhar da Bruxa
Livros best-seller na cabeceira, athame na bolsa, pentagrama de prata no
peito, caldeirão negro de ferro, velas coloridas e incensos, associação em
coventículo, ritualização de sabates e esbates, leitura de tarô, roupinha preta
por cima, um discurso ecológico e está pronto o pacote, fez-se mais uma bruxinha
pret-à-porter, que vai curtir o personagem até passar pelo ritual profano da
entrevista de emprego e se ver obrigada ao exercício de uma profissão capaz de
sustentar dignamente a si e aos seus.
Será que ela chegou a ser realmente uma bruxa?
Ah, sim, ela foi iniciada e depois elevada até o terceiro grau, a
tradição dela é Gardneriana, ou Pré-Gardneriana, o mestre é reconhecido, tem até
livro publicado... O que lhe faltaria para ser considerada uma bruxa?
O Olhar, O Olhar da Bruxa.
É um olhar maroto, sedutor, ameaçador, misterioso, amoroso, suplicante,
profundo, indecifrável ou o que? Por acaso ele solta centelhas?
Sim, isso tudo e muito mais. E sim, solta centelhas, mas para vê-las
você teria que ter, também, O Olhar da Bruxa. Porém, isso tudo é o que vai para
fora dO Olhar da Bruxa, não o que vem a dentro.
Então, o que a bruxa vê com seu Olhar?
Ah, ela vê magia onde você não vê; seres místicos onde o vento sopra,
onde o Sol reflete, onde a Lua brilha; vê a teia em que os homens se perdem, bem
como a linha que a tudo une; o infinito no modesto e o grandioso no sem
pretensões; vê luz na escuridão e é cega aos faróis que atraem os homens como
nuvens de mariposas; na solidão, se vê acompanhada, e nos grandes aglomerados
humanos, identifica a loucura; vê o tempo além do tempo e o tempo fora do tempo
e do espaço.
Onde os olhos dos cientistas buscam o conhecimento, O Olhar da Bruxa
rastreia a sabedoria e faz aprender fora e além de livros e de práticas
receitadas seja por quem for. O que invade O Olhar da Bruxa excede em muito os
elementos do universo percebido pelos cientistas, e este Todo expandido além do
infinito, além do espaço-tempo, se revela como mera interação entre
deidades.
Diante das evidências, a detentora dO Olhar da Bruxa devora o profano e
o torna sagrado, pois o espaço entre o sagrado e o profano é do tamanho exato da
ignorância espiritual. Cada fato, cada coisa, cada pessoa, cada planta ou
animal, cada pedra, cada som e cada chama, cada pó e cada raio de luz, cada
pensamento, cada sonho e cada sentimento, cada gozo, cada sofrimento, tudo faz
parte do sagrado se conseguimos olhar para lá com os olhos de uma
bruxa.
E os apetrechos, a bruxa não usa? São um engodo para bruxas de
butique?
Sim, ela usa, ou não. Os fabrica e, quando não pode fabricá-los, os
compra quando quer, se quiser e para o que quiser. É seu Olhar que a leva aos
artefatos, não são os artefatos que despertam seu Olhar. Uma bruxa não precisa
participar de rituais, não precisa de athame e de roupas negras, não precisa ser
reconhecida como bruxa nem esconder sua identidade, ela faz e usa o que quer,
porque quer, quando quer e da forma que quer. Mas com um querer maduro que não
expressa revolta nem auto-afirmação, um querer que tem origem em sua visão da
Deusa.
O Olhar da Bruxa revela-se, portanto, como maior que a sociedade, mais
poderoso que a própria civilização. Ao ir trabalhar num local profano, mesmo
entre materialistas, sua portadora sacralizará o ambiente e, sem tentar, acabará
por influenciar alguns, ao invés de renunciar a uma visão de universo
infinitamente mais ampla que a dos profanos.
A Vida de uma Bruxa
Ao se ouvir falar em bruxa, qual a imagem nos vem à mente? Uma jovem nua
colhendo ervas no campo com sua foice prateada? Uma mulher preparando poções em
seu caldeirão? Uma senhora servindo chá curativo e lendo a sorte no tarô?
Sabemos que o perfil de bruxas de verdade atuais não se resume a tais
estereótipos, mas, então, como é, hoje em dia, a vida de uma bruxa?
Raríssimas exceções à parte, bruxas e bruxos, desde criança, são submetidos
aos mesmos desafios e preocupações de pessoas de outros credos. Precisam
estudar, passar no vestibular, namorar, conseguir um bom emprego, trabalhar
duro, ganhar dinheiro para se sustentar, criar uma família, ajudar os filhos a
se colocarem na vida...
Cada drama comum na vida de não bruxas pode ser encontrado em igual
proporção na vida de pessoas não bruxas. Todos sofrem traições, decepções,
doenças, dificuldades financeiras; todos penam com chefes narcisistas e
incompetentes, professores que descontam suas frustrações pessoais nos alunos,
colegas que criam intrigas...
Então, o que as bruxas têm de diferente?
Algumas se vestem quase sempre de preto, mas o ditado católico também vale
para nós: o hábito não faz o monge.
Bruxas celebram a Roda do Ano e a maioria também celebra a Lua Cheia,
porém, as celebrações propriamente ditas não são exatamente um modo de vida, são
apenas festivais.
Preparam chás, alimentos enfeitiçados e misturas de incenso que curam e
alteram o psiquismo das pessoas, entretanto, quem não domina bruxaria também
toma e oferece estimulantes como café e chimarrão, prepara iguarias afrodisíacas
para jantares íntimos, se perfuma para se tornar mais desejável...
Há alguns métodos, todavia, que são diferentes entre bruxas e não bruxas.
Por exemplo, enquanto não bruxas consultam seus analistas e amigas, bruxas
consultam oráculos, as Deidades, os espíritos e/ou os mestres; enquanto não
bruxas promovem movimentos contra seus inimigos, bruxas usam feitiços de
banimento; mas em essência, o uso de tais instrumentos não caracteriza uma bruxa
e está longe de ser rotineiro, como o vulgo imagina ser.
Retornamos, então, à dúvida inicial: como é a vida de uma bruxa?
É igual à de uma pessoa não bruxa. Ambos passam pelas mesmas etapas, sofrem
os mesmos dramas e usam recursos similares. Mas há uma diferença fundamental
entre a vida de uma bruxa e a de uma não bruxa: a forma como ela vê o mundo à
sua volta. E quanto mais aprende uma bruxa, mais sagrado seu mundo profano se
torna. As paredes de alvenaria se tornam barreiras transponíveis, a poluição se
revela como mensageira do fim de uma era, as flores que rebentam entre a calçada
e asfalto formam gotas de luz que escorrem dos olhos da bruxa e o céu e a Terra
se tornam, enfim, maiores que a cidade.
Enfim, àqueles que se queixam de falta de tempo para praticar a Arte, deixo
uma fração da sabedoria verdadeira de um mago de ficção, Gandalf o cinzento:
"Não importa quanto tempo temos, o que importa é o que fazemos com o tempo que
nos é dado."
Traduzindo para o caso específico, vivam a vida de uma bruxa e já estarão
caminhando na Arte. Parem de classificar o mundo, percebam-no como ele é!.
Raízes Bruxas
Qual a origem da bruxaria? Que povo, que cultura plantou a semente da
bruxaria e com que águas suas raízes foram regadas?
Localizar as raízes bruxas é essencial para a compreensão do próprio
significado da bruxaria, mas a resposta para tais perguntas está escondida atrás
de uma questão ainda mais polêmica: a prévia definição de bruxaria. De que
bruxaria estamos falando, de que bruxaria estamos buscando a origem?
A maioria dos leitores optará por definir bruxaria como um conjunto de
crenças e práticas que teriam surgido na Europa durante a Idade Média, uma
espécie de reciclagem de mitos pré-romanos, em parte como resposta à lacuna
deixada após a queda do Império e, noutra, como o resgate da cultura anterior à
dominação romana, a redescoberta das raízes culturais e da tradição local
européia.
Talvez este seja o melhor entendimento sob o ponto de vista histórico, e
ele não nos levará muito longe do caminho que devo sugerir. Todavia, cabe
questionar a lógica de tal pensamento: se a bruxaria nasce como reconstrução de
tradições pré-romanas, não seriam suas raízes, também, pré-romanas?
E se Roma é um subproduto da cultura helênica, não devemos apontar nossas
investigações para o crescente fértil, que deu origem à própria cultura
grega?
A pergunta é retórica, pois se a bruxaria tivesse surgido na Idade Média
sem estar ligada a nenhuma tradição, se desenvolveria espontaneamente, o que
significa que seus conhecimentos seriam de domínio público, assim como eram
públicas as crenças judaicas, até que a Igreja interviesse, coibindo as crenças
pagãs. Mas o fato é que o saber bruxo sempre foi reservado a membros seletos de
alguma organização ou linhagem, assim como o saber do xamã também sempre foi
passado individual e criteriosamente, não em grupos e indistintamente como o
fazem as religiões contemporâneas.
Evidencia-se, então, pelo simples raciocínio acima apresentado, que a
Tradição Bruxa é anterior ao início da expansão de Roma, portanto, muito
anterior à Idade Média.
Buscar as raízes bruxas é buscar as origens das primeiras culturas
européias. Mas estamos falando de um momento em que a cultura não existia
oficialmente na Europa, senão como uma combinação de traços das comunidades
autóctones com as influências das civilizações do norte da África e do Oriente
Médio.
Agora podemos retornar às indagações originais: Qual a origem da bruxaria?
Que povo, que cultura plantou a semente da bruxaria e com que águas suas raízes
foram regadas?
Posso afirmar que, nas tradições bruxas européias que subsistiram até hoje
desde tempos imemoriais, há conhecimentos específicos que foram criados pelos
autóctones, reservados aos iniciados, mas a maior parte e talvez o corpo
principal são derivados de uma série de influências dos povos do norte da África
e do Oriente Médio sobre os autóctones. Conforme as fontes históricas de que
dispomos, ao contrário do que ocorre hoje em dia, os povos da Europa eram
plenamente receptivos a influências estrangeiras. O que lhes viesse em auxílio,
o que lhes fosse útil, seria muito bem recebido em sua cultura.
É um pouco difícil aceitar este fato vivendo na sociedade atual, mas o
imperialismo cultural ao qual buscamos até certo ponto resistir parece ser um
legado do cristianismo, haja vista que, mesmo em Roma, antes que o cristianismo
fosse declarado religião oficial do Império, os povos conquistados tinham plena
liberdade de culto e de expressão cultural, sendo observados, mas não inibidos,
de agir conforme suas respectivas tradições.
Noutros locais, fora do alcance de Roma, os árabes praticamente destruíram
a cultura persa por acomodação natural, não os tendo jamais subjugado; no Egito,
mesmo sob a coroa de Akhenaton (Amenhotep IV), posteriormente intitulado o faraó
maldito por declarar Aton como Deus único e absoluto, os templos de outros
deuses continuaram abertos, muito embora, por motivos óbvios, os nobres tivessem
deixado de contribuir para sua manutenção; ainda no Egito, em período diferente,
mesmo o povo judeu, mantido em cativeiro, não era forçado a aceitar os deuses
egípcios.
Então, ouso dizer que a bruxaria foi plantada fora da Europa, no norte da
África e no fundo (leste) do Mediterrâneo, e que aquilo que muitos acreditam ser
"o saber dos povos do campo", na verdade é a tradição e vivência de mistérios
muito mais antigos, cujas raízes devem ser buscadas ainda mais longe. Mas este é
um tema cuja profundidade pede mais espaço. Fiquemos, então, com este pensamento
final: dizer que a bruxaria surgiu na Europa é como dizer que a macumba surgiu
na Bahia.
Egoísmo é Ignorância
"Asa de morcego, pele de cobra. Foi só isso que aprendeu Morgana, fazer
poções e pequenas maldades?"
Este é o início do primeiro diálogo da cena 28 de Excalibur, versão
cinematográfica do clássico medieval "A Morte de Arthur", de Sir Thomas Malory,
falecido em 1471.
Muito mais atual do que gostaríamos, o mesmo triste julgamento que Merlin
faz de Morgana, nesta versão cristianizada de mitos ainda mais antigos, faço eu,
Taliesin, versão original de Merlin, ao observar representantes de grupos
autodenominados bruxos exaltando os benefícios pessoais da prática da
bruxaria.
Façam isto para aquilo, cultuem A para conseguir B, ofereçam tais e tais
agrados a determinados seres incorpóreos e recebam deles maravilhosos brindes!!!
Um verdadeiro show de oportunidades.
Parece que estamos assistindo a uma propaganda de TV.
Bem, talvez não seja de TV... Mas que não é o caminho bruxo, disso tenho
certeza.
Não há diferença significativa, senão para pior, entre discursos de
barganha como esses e o determinismo científico ou mesmo a pregação cristã, que
apresenta a salvação eterna como recompensa e o sofrimento eterno como castigo.
Chegamos a ouvir da boca de algumas pessoas travestidas de bruxos e bruxas
palavras e expressões que vibram no mesmo diapasão das de pastores evangélicos,
como, por exemplo, "contribuição", "culto", "bem e mal", "A Deusa enxerga dentro
de seu coração e Ela vai saber", "oferendas"... A meu ver, uma antiga
contradança de ameaça com negociata.
Bruxos fazem magia, mas não é a magia que faz de alguém um bruxo; nem,
tampouco, nos prostramos humildes aos pés dos Deuses buscando covarde e
egoisticamente suas graças. Convivemos com as Deidades e se temos algo a lhes
pedir, pois bem, pedimos. Mas não é nem o interesse no lucro nem o medo do poder
divino o que move um bruxo. Estar entre os Deuses já não nos seria o
bastante?
Ainda assim, somos bruxos porque somos, porque este é o nosso caminho. Ser
bruxo não é deter um determinado conhecimento sobre a Arte, ser bruxo é ser
humano e ao mesmo tempo reconhecer e buscar ocupar seu lugar no Todo; é dançar a
Dança da Deusa, pura e simplesmente seguir o curso que lhe é reservado, cumprir
o destino pessoal, descobrir-se parte de um contexto imensamente,
incomensuravelmente maior que os interesses pessoais; viver como humano, mas
buscar sempre uma harmonia entre sua existência e o Cosmo; aceitar ser engolido,
acolhido pela Terra para dela fazer parte. Ser bruxo é deixar se desfazer no ar;
caminhar sobre as brasas; flutuar sobre as ondas e se banhar sob as
cachoeiras.
Porém, conforme afirma um ditado chinês, "há pessoas que pescam peixes, e
outras que só turvam a água." Reúnem multidões cada vez maiores e ali
multiplicam sua ignorância; ao invés de se colocarem a serviço do Todo, buscam
se apropriar de suas partes. Roubam "contribuições", vendem "ordenações" e, a
preços módicos, negociam seus feitiços, oferecendo assim a seus concorrentes,
outros conhecedores de rudimentos da Arte igualmente ignorantes, material mais
que suficiente para lhes causarem malefícios por motivos igualmente
mesquinhos.
Mas, o que fazer?
É um fato que pedra pomes flutua na água e, segundo um ditado japonês,
"quando as pedras nadam, as folhas afundam."
Mas que bruxo é esse que cita sabedoria oriental ao invés dos "cânones"
neo-pagãos?
É um bruxo que vê a si mesmo de algum ponto inexistente, ponto este que se
encontra fora do multiverso, e dali enxerga universos, clusteres, galáxias,
sistemas e um planeta Terra sem as fronteiras criadas por elucubrações
maquiavélicas.
No seguimento anterior à passagem de Excalibur citada no início deste
artigo, Merlin abandona Arthur à sua própria sorte no auge de sua crise. Em suas
palavras, lhe diz que a Era dos Deuses se foi, e que a Era do Homem se iniciava.
No seguimento posterior, Merlin se vê subjugado e imobilizado por Morgana.
Hoje os tempos são outros, a Era do Homem, caracterizada pelo determinismo,
materialismo, individualismo, oportunismo, apropriação da natureza e dos homens
que dela aparentemente deixaram de fazer parte, a verdadeira Era do Egoísmo e da
acumulação de riquezas chega ao fim de seu curso. O modelo se esgotou, a crise
abraça o globo, a natureza responde às agressões... É hora dos bruxos e bruxas
ressurgirem, porque o destino dos Homens está próximo a se
cumprir.
Caridade às Avessas
Tão valorizada e elogiada nas mais diversas religiões, a caridade, quando
dada a quem pede costumeiramente, pode ter conseqüências diametralmente opostas
a o que se espera. Ao invés de dar fim ao suplício alheio, realimenta o processo
e o mantém por meses, anos, vidas, gerações.
Quem ainda não se deparou com um pedinte ou um vendedor que apela para sua
caridade, alguém que pede ou vende alegando estar passando por dificuldades e
sofrimento, sempre se apresentando como uma vítima das circunstâncias?
Racionalmente, diríamos apenas: O que tenho com isso? Se não posso afastar
o sofrimento dos milhões de miseráveis que passam diante de meus olhos, por que
eu ajudaria qualquer deles em especial? E se eu der o que me pedem hoje, o que
será do amanhã? Continuarão pedindo e pedindo? Mas ao ver outra pessoa em
situação difícil, a solidariedade que muitos julgam sublime às vezes emerge
dentro do ser humano e, cheios de compaixão, muitos atendem ao pedido.
Entretanto, ao invés de tal doação encerrar o problema, o pedinte recebe o
que lhe é dado e imediatamente depois bate à porta vizinha, repetindo suas
lamúrias. Se nada ganha, maldiz o "insensível" e politicamente incorreto que se
reservou o direito de se negar a contribuir com a mendicância.
Se por um lado o senso comum já considera óbvio que mais vale ensinar a
plantar do que entregar o grão colhido, venho chamar a atenção para o prejuízo
que os pedintes causam a si mesmos e a quem pedem ao repetirem suas queixas por
horas e horas e horas, por se acharem sempre vítimas, não buscando uma solução
efetiva para suas respectivas condições e por cultivarem e espalharem a tristeza
e o ódio.
Pactue com a doação a quem não busca soluções, empreste seus ouvidos a
queixas e onde pensa que poderá chegar?
O mundo tem a cor dos pensamentos de quem o vê; rosa para o apaixonado,
vermelho para o irritado e cinza escuro para o deprimido, dentre muitas outras
cores e matizes e seus sentimentos relacionados. Alimente seu pensamento e seu
coração com o sofrimento e não conseguirá se desvencilhar dele; dê ouvidos a
lamúrias costumeiramente e estará dando um impulso para que sua vida se torne
sem cor, triste e problemática como a dos que lhe pedem.
Por milhares de anos as mais diversas religiões vêm pregando a caridade,
mas vejam o que fez a caridade sem critérios: criou multidões que passam seus
problemas adiante, tornando-os problemas de todos, diluindo sua responsabilidade
e cruzando os braços para qualquer atitude construtiva, multidões de coitadinhos
que sempre serão coitadinhos, porque é assim que se sentem e é assim que esperam
ser tratados. E nesta verdadeira epidemia que é a profissão da miséria, contamos
mulheres com obesidade mórbida pedindo comida, jovens bem mais fortes que nós
pedindo dinheiro e crianças das mais diversas idades pedindo balas.
Isto é necessidade?
Não, isto é uma doença perpetuada pelas "boas ações"
impensadas.
Espero que gostem e formulem suas criticas,duvidas,
informações pois elas serão preciosas para estudo da origem da Arte, sei o que
eu postei será de informação muito boa e desde já agradeço a Ordem Sagrada De
Bennu com qual eu tirei estes textos de grande valia, e gostaria de perguntar o
que a Wicca acha da Bruxaria Ancestral......Obrigado..........
Bençãos Do Casal
Divino
Roda do Ano não é Ano!
No dia primeiro de maio celebramos, no hemisfério sul, o
Tempo dos Idos (Samhain para a tradição celta) e assim completamos a Roda. A
analogia com o fim de ano é inescapável, mas acaba por perverter o verdadeiro
significado da Roda. Aliás, a própria expressão "Roda do Ano" já é uma carona em
um conceito que não deveria ser evocado. Vejamos o por quê.
O conceito da Roda está
estritamente vinculado à concepção de um tempo cíclico, um eterno recomeçar. Já
deve ter ouvido isso, mas, desta vez, não se apresse, atente para o que quer
dizer o verbo recomeçar, trata-se mesmo de um começar novamente, não de um
"terminar um para começar outro". Observamos e queremos observar novamente as
mesmas estações, os mesmos solstícios e equinócios, os mesmos sabates, os mesmos
florecer e perecer dia após dia, repetindo o eterno ciclo.
O ano, ao contrário,
calca-se no conceito de tempo linear. É tomada uma referência no tempo e se
conta um ano, mais um ano, mais um ano, e o tempo se acumula, e jamais retorna.
Assim o fazem os cristãos, os judeus e os muçulmanos, para citar as religiões
com maior número de adeptos no ocidente, representando o meio em que fomos
criados e, portanto, as tradições das quais tendemos a absorver conceitos mais
fácil e sutilmente.
Como, entretanto, um ano
gregoriano coincide com o período de uma volta completa da Terra ao redor do
Sol, e esta inter-relação Terra-Sol é o que determina as estações, o número de
dias de um ano é equivalente ao número de dias de uma Roda.
Será?
Não. Todos se esquecem de
contar o período de interstício. A Roda termina na noite do dia trinta de abril,
e só recomeça na noite do dia dois de maio. Durante este período de três dias os
véus entre mortos e vivos se levantam justamente por estarmos fora do tempo, em
conseqüência, fora do espaço, fora da Roda, num limbo entre universos
paralelos.
Você pode não acreditar
nisto em absoluto, e ignorar o período de interstício; pode acreditar e querer
escapar de encontros desagradáveis, como ocorria com os antigos profanos, que
esculpiam seus nabos (posteriormente substituídos por abóboras) e neles
colocavam velas acesas, para projetarem bocas e olhos monstruosos que
afugentassem os espíritos que estivessem vagando; pode ainda desacreditar,
querer ver e não conseguir ou acreditar, querer ver e conseguir, mas quer ocorra
a comunicação entre diferentes planos durante o interstício, ele faz parte do
conceito de Roda que chegou até nós, e denuncia que ano e roda não coincidem nem
mesmo em número de dias.
Ora, dirão alguns, o que
importam três dias diante de trezentos e sessenta e cinco ou trezentos e
sessenta e quatro? Os solstícios e equinócios são marcados pela posição do Sol
em relação à região da Terra onde se comemora o sabate, e são estes eventos
astronômicos que causam a passagem das estações e, por sua vez, a passagem das
estações que causa o ciclo.
Muito bem, esqueça o
interstício, se assim o desejar, mas se prestar atenção em todos os argumentos
apresentados no parágrafo acima notará que no ano seguinte não haverá um novo
solstício, mas o mesmo solstício, não será um novo fenômeno, um novo fato, mas a
repetição do mesmo fato. O mesmo vale para os equinócios, sendo um solstício e
um equinócio com tendência de dias maiores e outro solstício e equinócio com
tendência de dias menores. Sempre as mesmas posições relativas, sempre os mesmos
fenômenos repetidos eternamente. Então, meu caro amante de astronomia, por que
acrescentaríamos um ano sobre outro se anos forem apenas registros de voltas em
torno do Sol?
Não, o ano cristão, aquele
tomado como referência comum, não é nada além de um aniversário, e nada tem a
ver com os ciclos do Sol ou da Lua em relação à Terra, como se costuma pensar a
respeito dos calendários gregoriano e juliano, respectivamente. O cristianismo,
o judaísmo, o islamismo, todas estas religiões, tiveram um início e, à guisa de
contagem do tempo, comemoram aniversários de eventos que lhe são caros ano após
ano, representando em suas cifras a idade de suas crenças.
O que nós temos a ver com
isso?
Alguns pagãos chegaram a
sugerir que acrescentássemos vinte mil anos à data cristã e apresentássemos
nossa própria contagem, como indicação das origens e idade de nossa própria
crença. Seria justo se nos preocupássemos com o decorrer dos anos, mas o que
queremos é que as estações continuem se sucedendo, ano após ano, que a Roda, a
mesma velha e antiga Roda, continue girando. E isto, considerando o que vem
acontecendo com o clima global em decorrência do insaciável materialismo e
profundo antropocentrismo da civilização atual, não é querer
pouco...
Ao invés de novas conquistas
e mais acúmulo, desejo aos colegas de caldeirão um feliz recomeço no Tempo dos
Idos.
Nos
Braços dA Deusa ou A Deusa em Nossos Braços?
Recentemente (há alguns anos) fragmentos de um cometa caíram em Júpiter. Se tivessem caído na Terra, provavelmente não haveria chance de sobrevivência para os humanos, assim como aconteceu com os dinossauros há milhões de anos. Tempos depois, um grande asteróide roçou a atmosfera de Marte. Tais eventos são muito mais corriqueiros do que o vulgo pensa quando se amplia a escala do tempo, e as condições ambientais dos planetas é muito menos regular do que se imagina, por exemplo: Vênus, mais próxima do Sol que a Terra, e Marte, mais distante do Sol que a Terra, já tiveram oceanos de água, mas hoje são estéreis; a explosão de um supervulcão na Indonésia, há cerca de 65.000 anos atrás, praticamente eliminou a vida humana em todo o planeta; há um supervulcão em vias de entrar em erupção no noroeste dos Estados Unidos.
Já viu alguém defender a natureza? E respeitá-la? Alguém declarar seu amor
à natureza é lugar comum, mas ver alguém efetivamente defendê-la e respeitá-la é
muitíssimo mais raro do que parece.
Bruxos não fazem proselitismo, respeitamos as escolhas alheias. Sabemos que
conselhos jamais atingirão alguém com tanta eficácia quanto o aprendizado
através da vivência pessoal, portanto, costumamos poupar nossas palavras àqueles
que estão ávidos por elas e prontos para assimilá-las rapidamente. Por outro
lado, o respeito ao livre-arbítrio não pode se converter em eterna indiferença e
tolerância diante de certos descompassos aberrantes entre discursos e ações.
Ouvir alguém defender a natureza enquanto a agride leva à confusão. E a
incoerência não é apenas uma confusão, ela é uma mentira aplicada contra o
próprio pensador que funciona como uma âncora, tanto para si quanto para sua
platéia, contra o movimento em direção à visão clara. Um dos valores mais
presentes nas diversas tradições bruxas vivas é o respeito aos seres vivos e à
natureza de forma geral. De roldão, a busca pela reintegração do homem à
natureza, a reinserção do ser-humano no universo e a percepção de que a Terra é
uma entidade viva (teoria da Terra Gaia) da qual o ser humano não é mais que um
elemento, estão na ordem do dia de qualquer bruxo, pretenso bruxo ou pseudo
bruxo.
Vivas ao discurso, mas e a prática? O que vem depois? O que vem junto? Como
tais oradores, articulistas e autores de livros de bruxaria ensinam através de
seus atos como se harmonizar com o universo, como dançar a Dança da Deusa? Vão
além da pantomima ritualística pública a cada sabate e esbate, além da
divulgação de roteiros e receitas? Ao menos nos rituais, públicos ou privados,
agem em coerência com os elevados valores que professam? Lamento informar que o
que podemos constar entre bruxos das mais diversas tradições, e sem sinais de
arrefecimento, aponta em sentido diametralmente oposto. O que temos visto, desde
sempre, são flores arrancadas impiedosamente para presentear a Senhora de Todas
as Flores; o consumo de carnes sob o esquecimento doloso da agonia em que é
transformada a vida e a morte de bois, aves, peixes, crustáceos e o que mais
tenha o azar de cair nas "boas graças" do paladar amoral do homem; a
domesticação de cães e gatos que são tratados como deficientes mentais ou como
escravos, ou ambos, por seus auto-intitulados "donos" (Uma palavra mais
fidedigna seria "carcereiros"). Nada mais que ecos ao infinito da crença cristã
de que a natureza está aí para servir ao homem, aliada ao postulado
místico-biológico que afirma que o ser humano é mais evoluído que "os animais",
que por sua vez são mais evoluídos que os vegetais.
Quanto a este último ponto, não só identificamos em atos, mas
ocasionalmente temos o desgosto de presenciar arraigadas defesas orais e
escritas por parte de membros da comunidade bruxa que em nada se afastam das
teses científicas mais abjetas, calcando a fraudulenta tese da superioridade
humana na presença de características que, a priori, só o homem teria. Como se
outros animais não tivessem características exclusivas, como se as
características humanas fossem distintivos de superioridade...
Argumentos como estes nada mais provam do que o fato de o ser humano ser o
mais humano dos animais.
Ora, se acreditamos que o ser humano é o topo, é o máximo, se a função da
natureza é servir ao homem, se somos aqueles que têm o direito e o dever de
determinar a vida de outros seres (e determinamos, miseravelmente, que bilhões
de animais devem viver e morrer em condições degradantes para puro deleite
gastronômico humano), como podemos nos integrar à natureza? E, no sentido
inverso, se tratamos animais domésticos como eternos bebês humanos e/ou como
escravos, que integração é esta que estaríamos buscando?
Para ser possível ao menos buscar a integração é indispensável entender-se
como parte de algo maior, mas o que vemos o ser humano fazer, e aqui se incluem
pretensos ecologistas, digam-se bruxos ou não, é reproduzir com uma leve
alteração a tão mal compreendida recomendação de Francis Bacon que, num momento
infeliz da história, declarou que "a Natureza deve ser torturada e forçada a
revelar seus segredos". É literalmente o que fazem hoje homens das mais diversas
posições ideológicas, torturam e deformam a natureza para forçá-la a atender a
seus próprios interesses. É isto o que entendem por se integrar? Por caminhar
com a natureza? No máximo abrir mão de certos luxos tecnológicos e colocar a
natureza a seu serviço? Não estariam, assim, fazendo o inverso, integrar animais
e plantas ao seu mundo?
Sei que as crenças de pretensa superioridade humana vão fundo, sei que
pedem muito mais do que um leve pontapé como este para que haja uma tênue chance
de forçar a reflexão. Então, me alongo um pouco mais e deixo algumas
perguntas:
Para a ciência, o homo sapiens sapiens é reputado existir há não mais que
150.000 anos; a civilização, há não mais que 8.000 anos. Há diversas tradições
místicas e/ou religiosas que postulam ser o homem muito mais antigo, mas não há
motivos para confundir o "homem" com o corpo que ele habita; e quanto às origens
da civilização, embora a própria Ordem Bruxa deste autor seja uma das que
defendem a idéia de ter havido civilizações anteriores, não consta que alguém
afirme ter havido coexistência entre sapiens sapiens e os dinossauros. Portanto,
podemos presumir que todos concordarão que muito antes do
surgimento/manifestação, na Terra, do tipo de inteligência humana que conhecemos
atualmente, os dinossauros se mantiveram no topo da cadeia alimentar em todo o
Globo por cerca de 300 MILHÕES de anos, mas foram extintos, segundo as teses
mais aceitas, pela queda de um meteorito na península de Yucatan.
1- Qual o sentido de ter havido dinossauros e de estes terem dominado a
Terra por tanto tempo se a existência de dinossauros não é pré-requisito para o
surgimento do homo sapiens sapiens? É sensato pensar que a manifestação do
universo só passou a fazer sentido com nosso surgimento?
2- Se aceitamos que nossos espíritos são imortais, por onde andavam nossos
espíritos na época em que sequer os mamíferos haviam surgido na face da Terra?
Ou nossos espíritos foram criados há apenas 150.000 anos?
3- Se somos assim tão evoluídos e inteligentes, por que a civilização que
conhecemos surgiu há apenas 8.000 anos se nossos corpos já são os mesmos há
150.000 anos e nossas almas sempre foram as mesmas?
Recentemente (há alguns anos) fragmentos de um cometa caíram em Júpiter. Se tivessem caído na Terra, provavelmente não haveria chance de sobrevivência para os humanos, assim como aconteceu com os dinossauros há milhões de anos. Tempos depois, um grande asteróide roçou a atmosfera de Marte. Tais eventos são muito mais corriqueiros do que o vulgo pensa quando se amplia a escala do tempo, e as condições ambientais dos planetas é muito menos regular do que se imagina, por exemplo: Vênus, mais próxima do Sol que a Terra, e Marte, mais distante do Sol que a Terra, já tiveram oceanos de água, mas hoje são estéreis; a explosão de um supervulcão na Indonésia, há cerca de 65.000 anos atrás, praticamente eliminou a vida humana em todo o planeta; há um supervulcão em vias de entrar em erupção no noroeste dos Estados Unidos.
4- Sendo possível e mesmo provável a extinção total da vida humana com um
simples evento astronômico banal, que inclusive já ocorreu na Terra em tempos
remotos, como a colisão de um grande asteróide, ou a explosão de um supervulcão,
faz sentido pensar que somos o ápice da evolução, que nada melhor virá senão a
partir de nossos descendentes?
Toda estrela nasce, vive e morre, podendo, eventualmente, depois renascer.
Segundo as modernas teorias astrofísicas, o destino do pequeno e fraco Sol (5ª
grandeza) do sistema ao qual pertencemos, por exemplo, é transformar-se numa
gigante vermelha, engolindo os planetas Mercúrio e Vênus e elevando a
temperatura da Terra a ponto de evaporar toda a água dos oceanos. Depois, se
encolherá e se apagará, se tornando uma anã-marrom. Na Via Láctea, nossa
galáxia, outras estrelas, bem mais portentosas que o Sol que nos aquece, já
explodiram, outras estão na iminência de explodir em supernova, criando
nebulosas cujo tamanho supera de várias vezes a dimensão de todo este sistema
solar, algumas podendo ser vistas a olho nu daqui da Terra. Bilhões de estrelas
na Via Láctea e bilhões de galáxias no universo, cada uma com bilhões de
estrelas. Corpos celestes das mais diversas espécies e formas, nebulosas,
quasares, pulsares, buracos negros, buracos negros supermassivos, asteróides,
cometas, anéis, luas, estrelas gigantes e anãs, marrons, brancas, azuis,
vermelhas, todos dançando a Dança da Deusa a até possivelmente mais de uma
dezena e meia de bilhões de anos luz da Terra em todas as direções e desde
bilhões de anos antes do surgimento do homo sapiens sapiens. Ordens de grandeza
antes inconcebíveis para o ser humano. 5- Diante deste tamanho e diversidade do
Universo, é possível achar que o ser humano é o máximo da evolução e que nossa
inteligência faz alguma diferença no cosmos mesmo que nos limitemos ao plano
físico? Conduzimos ou podemos conduzir esta Dança?
Se, após tudo isso, ainda acha o ser humano superior, vale ainda lembrar
que insetos existem há muito mais tempo que o ser humano; que se puséssemos em
um dos pratos de uma balança todos os insetos e no outro todos os humanos, ela
penderia para o lado dos insetos; que certos insetos, como os mosquitos e
pernilongos, se alimentam do homem; que ácaros se alimentam de sua pele; que
baratas atacam os depósitos dos humanos e diversas pragas atacam suas
plantações; que apesar de muitos dos insetos e diversos animais prejudicarem os
interesses dos humanos e transmitirem-lhes doenças, até hoje o homem não pôde
afastar definitivamente tais ameaças; que vírus não precisam de cérebro para
dizimar populações humanas inteiras e que, independendo da pretensa
superioridade humana, ela não é argumento válido para que o homem prejudique os
interesses de outros seres que não representam ameaça.
Nosso papel, nosso caminho, não é se achar o máximo e covardemente
assassinar plantas, animais não humanos, mutilar lagos, rios e montanhas, tentar
amoldar o universo aos nossos interesses; nosso caminho, o caminho que pregamos,
é nos integrarmos verdadeiramente à natureza, reconhecendo nossa insignificância
como indivíduos e descobrindo nossa importância como parte desta maravilhosa
vida cósmica, que pulsa muito além do alcance das pretensões dos mais
pretensiosos dos humanos. É hora de perceber que o mundo se divide entre aqueles
que aceitam o convite da Deusa para dançar, seja bruxo ou não, e aqueles que
tentam puxá-la pelos cabelos e forçá-la a dançar num ritmo caótico.
Faltou a autoria: www.bruxas.eco.br
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