sexta-feira, 28 de junho de 2013

Principais tradições da Bruxaria!!

Principais Tradições de Bruxaria

 Tradição 1734: Tipicamente britânica é às vezes uma Tradição eclética baseada nas idéias do poeta Robert Cochrane, um auto-intitulado Bruxo hereditário que se suicidou através da ingestão de uma grande quantidade de beladona. 1734 é usado como um criptograma(caracteres secretos) para o nome da Deusa honrada nesta tradição.

Tradição Alexandrina: Uma Tradição popular que começou ao redor da Inglaterra em 1960 e foi fundada por Alex Sanders. A Tradição Alexandrina é muito semelhante à Gardneriana com algumas mudanças menores e emendas. Esta Tradição trabalha à maneira de Alex e Maxine Sanders, que diziam terem sido iniciados por sua avó em 1933. A maioria dos rituais são muito formais e embasados na Magia cerimonial. É também uma tradição polarizada, onde o Sacerdotisa representa o princípio feminino e o Sacerdote o princípio masculino. Os rituais sazonais, na maior parte são baseados na divisão do ano entre o Rei do Azevinho e o Rei do Carvalho e diversos dramas rituais tratam do tema do Deus da Morte/Ressurreição. Como na Tradição Gardneriana a Sacerdotisa é elevada autoridade máxima. Entretanto, os precursores para ambas Tradições foram homens. Embora similar a Gardneriana, a Tradição Alexandrina tende a ser mais eclética e liberal. Algumas das regras estritas Gardnerianas, tais como a exigência do nudismo ritual, são opcionais. Alex Sanders intitulou-se a certa altura "Rei das Bruxas", considerando que o grande número de pessoas que tinha iniciado na sua tradição lhe dava esse direito. Nem os seus próprios discípulos o levaram muito a sério, e para a comunidade Pagã no geral esse título foi apenas motivo de troça, quando não de repúdio. Janet e Stewart Farrar são os mais famosos Bruxos que divulgaram largamente a Tradição Alexandrina em suas publicações.

Tradicional Britânica: Uma Tradição com uma forte estrutura hierárquica e graus. Os Rituais estão centrados na Tradição Céltica e Gardneriana

Wicca céltica: Uma Tradição muito telúrica, com enfoques na natureza, os elementos e elementais, algumas vezes fadas, plantas, etc. Muitas " Bruxas Verdes" (Green Witches) e Adeptos do Druidismo seguem este caminho, centrado no panteão Céltico antigo e em seus Deuses e Deusas.

Tradição Caledoniana (ou caledonni): Uma tradição que tenta preservar os antigos festivais dos escoceses e às vezes é chamada de Tradição Hecatina.

Tradição Picta: É uma das manifestações da Bruxaria tipicamente escocesa. Na maioria das vezes é uma forma solitária da Arte. Seu enfoque prático é basicamente mágico e possui poucos elementos religiosos e filosóficos.

Bruxaria Cerimonial: Usa a Magia cerimonial para atingir uma conexão mais forte com as divindade e perceber seus propósitos mais altos e suas habilidades. Seus Rituais são freqüentemente derivações da Magia Cabalística e Magia Egípcia. Embora certamente, mas não de forma intencional, este caminho é infestado freqüentemente por egoístas e pessoas inseguras que usam a Magia Cerimonial para duas finalidades: adquirir tudo aquilo que querem e atingir níveis mais altos para poderem olhar de cima. Estes atributos não são uma regra em todos os Bruxos Cerimoniais, e há muitos Bruxos sinceros neste caminho.

Tradição Diânica: Algumas Bruxas Diânicas só enfocam seus cultos na Deusa, são muito politicamente ativos, e feministas. Outras Bruxas Diânicas simplesmente enfocam seu culto na Deusa como uma forma de compensar os muitos anos de domínio Patriarcal na Terra. Algumas Bruxas Diânicas usam este título para denotar que são "as Filhas de Diana", a Deusa protetora delas. Há Bruxas Diânicas que são tudo isto , algumas que não são nada disto, e outras que são um misto disto. A Arte Diânica possui duas filiais distintas:
- Uma filial, fundada no Texas por Morgan McFarland . Que dá o supremacia à Deusa em sua thealogy, mas honra o Deus Cornífero como seu Consorte Amado e abençoado. Os membros dos Covens dividem-se entre homens e mulheres. Esta filial é chamada às vezes "Old Dianic" (Velha Diânica), e há alguns Covens descendentes desta Tradição, especialmente no Texas. Outros Covens, similares na thealogy mas que não descendem diretamente da linha de McFarland, e que estão espalhados por todo EUA.
- A outra filial, chamada às vezes de Feitiçaria Feminista Diânica, focaliza exclusivamente a Deusa e somente mulheres participam de seus Covens e grupos. Geralmente seus rituais são livres e não são hierárquicos, usando a criatividade e o consenso para a realização de seus rituais. São politicamente um grupo feministas. Há uma presença lésbica forte no movimento, embora a maioria de Covens estejam abertos à mulheres de todas as orientações.

Tradição Georgina: Esta Tradição foi criada por George Patterson, que se auto intitulou como sendo um "Sumo Sacerdote Georgino". Quando começou o seu próprio Coven, chamou-o de Georgino, já que seu prenome era George. Se há uma palavra que melhor pode descrever a Tradição de George , seria "eclética". A Tradição Georgina é um composto de rituais Celtas, Alexandrinos, Gardnerianos e tradicionais. Mesmo que a maior parte do material fornecido aos estudantes sejam Alexandrinos, nunca houve um imperativo para seguir cegamente seu conteúdo. Os boletins de noticias publicados pelo fundador da Tradição estavam sempre cheio de contribuições dos povos de muitas outras Tradições. Parece que a intenção do Sr. Patterson era fornecer uma visão abrangente aos seus discípulos.

Ecletismo: Um Bruxo eclético é aquele que funde idéias de muitas Tradições ou fontes. Assim Como no caldeirão de uma Bruxa, são somadas elementos para completar a poção que é preparada, assim também são somadas várias informações de várias Tradições para criar um modo mágico de trabalhar. Geralmente, são criados rituais e Covens de estrutura livre.

Tradição das Fadas (ou Fairy Wicca): Há várias facções da Tradição das Fadas. Segundo os membros desta Tradição, seus ritos e conhecimentos tiveram origem entre os antigos povos da Europa da Idade do Bronze, que ao migrarem para as colinas e altas montanhas devido às guerras e invasões ficaram conhecidos como Sides, Pictos, Duendes ou Fadas. Uma Bruxa desta Tradição poderia ser ou trabalhar, mas não necessariamente: - Com energias da natureza e espíritos da natureza , também conhecidos como fadas, Duendes, etc. - Homossexual Alguns dos nomes mais famosos desta Tradição são Victor e Cora Anderson, Tom Delong (Gwydion Penderwyn), Starhawk, etc.

Tradição Gardneriana: Fundada por Gerald Gardner nos anos de 1950 na Inglaterra. Esta tradição contribuiu muito para Arte ser o que é hoje.. A estrutura de muitos rituais e trabalhos mágicos em numerosas tradições são originárias do trabalho de Gardner. Algumas das reivindicações históricas feitos pelo próprio Gardner e por algumas Bruxas Gardnerianas têm que ainda serem verificadas (e em alguns casos são fortemente contestadas) porém, esta Tradição apoiou muitas Bruxas modernas. Gerald B. Gardner é considerado "o avô" de toda a Neo-Wicca. Foi iniciado em um Coven de NewForest, na Inglaterra em 1939. Em 1951 a última das leis inglesas contra a Bruxaria foi banida (primeiramente devido à pressão de Espiritualistas) e Gardner publicou o famoso livro"Witchcraft Today", trazendo uma versão dos rituais e as tradições do Coven pelo qual foi iniciado.
Gardnerianismo é uma tradição extremamente hierárquica. A Sacerdotisa e o Sacerdote governam Coven, e os princípios do amor e da confiança presidem. Os praticantes desta Tradição trabalham "Vestidos de Céu" (nus), além de manterem o esquema de Seita Secreta. Nos EUA e Inglaterra os Gardnerianos são chamados de "Snobs of the Craft" (Snobes da Arte), pois muitos deles acreditam que são os únicos descendentes diretos do Paganismo purista. Cada Coven Gardneriano é autônomo e é dirigido por uma Sacerdotisa, com a ajuda do Sacerdote, Senhores dos Quadrantes, Mensageiro, etc. Isto mantém o linhagem e cria um número de líderes e de professores experientes para o treinamento dos Iniciandos. A Bíblia Completa das Bruxas (The Witches Bible Complete) escrita por Janet e Stuart Farrar, como também muitos livros escritos por por Doreen Valiente têm base nesta Tradição e na Tradição Alexandrina em muitos aspectos.

Tradição Hecatina: Uma Tradição de Bruxos que buscam inspiração em Hécate e tentam reconstruir e modernizar os rituais antigos da adoração à esta Deusa. É algumas vezes chamadas de Tradição Caledoniana ou Caledonii. BRUXO

Tradição Familiar ou Hereditária: Um Bruxo que normalmente foi treinado por um ente familiar e/ou pode localizar sua história familiar em outro Bruxo ou Bruxos. Os Bruxos Hereditários, ou Genéticos como gosto de chamar, são pessoas que têm, ou supõem ter, uma ascendência Pagã (mãe, tia, avó são os alvos mais visados). A maioria dos Hereditários não aceitam a infiltração de outras pessoas fora de sua dinastia, porém algumas Tradições Familiares "adotam" alguns membros, escolhidos "à dedo" em seu segmento.

Bruxa de Cozinha: Uma Bruxa prática que é freqüentemente eclética, enfoca e centra sua magia e espiritualidade ao redor do "forno e do lar".

Wicca Saxônica ou Seax-Wicca: Fundada em 1973, pelo autor prolífico, Raymond Buckland que era, naquele momento, um Bruxo Gardneriano. Uma das primeiras tradições precursoras em Bruxos solitários e o auto-iniciados. Estes dois aspectos fizeram dela um caminho popular.

Bruxo Solitário: Uma pessoa que pratica a Arte só (mas pode se juntar às festividades de Sabbat em um Coven ou com outros Bruxos Solitários ocasionalmente). Um Bruxo Solitário pode seguir quaisquer das Tradições, ou nenhuma delas. A maioria de Bruxos ecléticos são Solitários.

Tradição Strega: Começou ao redor na Itália em 1353. A história controversa sobre esta Tradição pode ser achada em muitos locais e em muitos livros. Arádia... Gospell of the Witches (Arádia...A Doutrina das Bruxas) é um deles.

Tradição Teutônica ou Nórdica: Teutônicos são um grupo de pessoas que falam o norueguês, fosso, islandês, sueco, o inglês e outros dialetos europeus que são considerados "idiomas Germânicos". Um Bruxo teutônico acha freqüentemente inspiração nos mitos tradicionais e lendas, Deuses e Deusas das áreas onde estes dialetos se originaram.

Tradição Asatrú: Teve suas origens no Norte da Europa e é uma das facções das Tradições Teutônica e Nórdica. Esta Tradição é praticada hoje por aqueles que sentem uma ligação com os nórdicos e teutônicos e que desejam estudar a filosofia e religiosidade da antiga Escandinávia, através dos Eddas e Runas. Encoraja um senso de responsabilidade e crescimento espiritual, freqüentemente embasados nos conceitos atribuídos aos nobres guerreiros de tempos ancestrais. Tradição Algard: Uma americana iniciada nas Tradições Gardneriana e Alexandrina, chamada Mary Nesnick, fundou essa "nova" tradição que reúne ensinamentos de ambas tradições sob uma única insígnia.

Bruxaria Tradicional: Todo Bruxo tradicional dará uma definição diferente para este termo. Um Bruxo tradicional é aquele que freqüentemente prefere o título de Bruxo à Wiccaniano e define os dois como caminhos muito diferentes. Um Bruxo tradicional fundamenta seu trabalho mágico em métodos históricos da tradição, religiosidade e geografia de seu país.

Bruxaria Tradicional Ibérica: Uma bruxaria onde participam pessoas que habitam a região que compreende a penísula ibérica, principalmente Portugal e Espanha. Seus ancestrais adoravam os seus Deuses, com cultos diferenciados entre tribos e regiões; eles amavam e respeitavam os lugares e espíritos da natureza, colhiam e caçavam com bravura e respeito.
No passado a Península Ibérica foi palco de influências de vários povos entre eles: os Fenícios, Cartagineses, Suevos, Visigodos, Celtas (daí o rótulo de Celtibero, palavra que representa mistura de povos Celtas e Ibéricos). As divindades nunca se mesclaram facilmente com as dos povos invasores. A adoração e o Ritual dos Deuses tem a ver com a Arte Antiga, hoje chamada por uns de "Tradicionalista" e claro, muito anterior à Wicca que vemos do autor Gardner e outros decorrentes. Além disso, é sabido o quanto Gerald Gardner percorreu por várias vezes a Espanha na busca do culto dos Antigos... e nunca os encontrou realmente, pois os grupos de bruxos conhecidos por Aquellares e Coevas (covens) são fechados e o que se fala para o exterior é cauteloso de acordo com as Leis Wiccans!
O espírito religioso dos romanos baseava-se na importação dos Deuses das varias regiões conquistadas. Podemos citar a Grécia como exemplo disso. Todos os Deuses Gregos foram importados dando origem a Deuses Romanos de poder, influência e semântica similares. Os romanos também querendo absorver "os poderes das tribos" conquistadas, apropriavam-se dos nomes dos Deuses locais e os aplicavam conforme as conveniências em sua cultura, sem contudo nestes Deuses romanos recém criados existir o verdadeiro sentido mágico-religioso.
Assim aconteceu com a nossa Deusa Atégina que após a romanização, virou Próserpina, nome deveras conhecido na mitologia romana mas, muito antes de Roma ser criada, os povos locais já conheciam a lenda da Descida da Deusa Atégina aos mundos interiores. Podemos notar também pela história que, cinco séculos antes de Roma, já haviam chegado à europa a cultura dos Gregos e dos Fenícios e, depois, dos Cartagineses que não forçaram os habitantes ibéricos com suas religiões, entretanto foram bastante influentes na passagem de segredos e mistérios aos Sábios tribais dos Santuários primitivos já existentes na Península Ibérica. A Tradição dos ibéricos tem uma ancestralidade reconhecida num vasto Panteão autônomo, quase livre de influências exteriores, e nos variadíssimos vestígios históricos, que cada vez mais surgirão à luz dos homens.
Não poderíamos ficar allheios também da importância trazida pelas culturas Fenícia, Cretense e Grega e cuja cultura resplandecente causou assombro e respeito aos povos nativos ibéricos do litoral português com os cultos de Baal Merkart e de Tanith de Cartago cultuada no seu local em Nazaré. O Panteão Ibérico é rico e tribal. Os Deuses que compõem este panteão existem nas antigas regiões da Bética, da Lusitânia e da Calaecia, e entre várias Divindades, cultua-se: Endovélico - o Curador, Atégina - A Deusa Mãe, Trebaruna - A Guerreira e Protetora, Bônconcios - O Guerreiro, Tongoenabiagus - O Fertilizador, Tanira - A deusa das Artes, Nabica - A Ninfa das Florestas, Aernus - O senhor dos ventos do norte, Brigantés - a Deusa guerreira . (Esta divindade é resultante da influência dos povos do norte da Europa nas terras da Ibéria - A qual não têm nada a ver com Briga ou Brigit dos druidas e muito menos a ver com os seus cultos). Os feiticeiros Ibéricos não seguem os atuais calendários usados na Wicca, mas sim os calendários vivos que a própria Tradição os ditou através dos tempos. Nesta Tradição há 3 Celebrações anuais básicas: O nascimento, O Apogeu e o Rito aos Idos aonde visitamos o Rio do Esquecimento, para cultuar seus antepassados. Na Tradição Ibérica o culto é dirigido a uma só Deusa ou a um Deus e cada Divindade é adorada individualmente, salvo algumas exceções, não se aplicando a ritualística de Deusa e seu Consorte, tão difundida pela Wicca e não existe o conceito de deuses infernais, nem duos ou trindades de Deuses.

Tradição Galesa de Gwyddonaid: Uma Tradição Galesa Céltica da Wicca, que adora panteão galês de Deuses e Deusas. Gwyddonaid, foi quem grosseiramente traduziu a ignóbil obra galesa "Árvore da Bruxa (Tree Witch)" e propagou esta forma de trabalhar magicamente."



Tradição Witta: que surgiu na América no século 20, baseada no paganismo celta irlandês. Apesar de ter as raízes antigas, esta vertente não exclui fundamentos da Bruxaria Moderna (Wicca).
O ano novo é celebrado em Yule, ao invés de Samhaim, como nas tradições célticas. Não é uma vertente hierárquica, portanto os sacerdotes são instruídos somente para conduzir rituais e ensinar outras pessoas. Aliás, ensinar sempre foi o foco da Witta; a idéia de passar o conhecimento adiante. É importante que o estudante desenvolva seus próprios conceitos sobre o divino e o seu relacionamento para esse poder.
Brigith e Lugh são as principais divindades trabalhadas na Witta, mas os sacerdotes (chamados de wittans) podem trabalhar com qualquer divindade irlandesa.
O conceito de nome mágico secreto também faz parte da Witta. Uma de suas Anciãs é a escritora Edain McCoy

Pesquisa realizada por Sianna Aset
Fontes: Bruxaria.net e Universo de Luz.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Quem são as bruxas? De onde vem sua tradição? por Gabriel N.

 

Tanto o senso comum quanto alguns grupos bruxos de tradição celta parecem adotar como referência o ícone da bruxa europeia medieval, um misto de sacerdotisa com xamã. Entretanto, estes mesmos grupos bruxos consideram que as bases da bruxaria medieval são pré-históricas e muitas vezes adotam a veneração a deuses cultuados na antiguidade, portanto dentro do período histórico e anteriores ao período medieval, cabendo ainda salientar que mesmo linhagens genuinamente europeias ocasionalmente cultuam deuses não europeus.

O dicionário Aurélio parece apontar especificamente na direção da antiguidade, sugerindo que a palavra bruxa tem origem possivelmente pré-romana, o que nos leva a concluir que o conceito de bruxa veio se alterando ao longo do tempo, bem como as características dos grupos que representavam a bruxaria vieram se transformando. Ademais, em diferentes períodos da história a palavra bruxa foi usada indistintamente para seguidoras de alguma religiosidade pagã, feiticeiras, leitoras de oráculos e curandeiras.
Diante de tamanha confusão de conceitos, propomos a seguinte convenção, que doravante adotamos:

1) em sentido estrito, bruxas/bruxos seriam as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que tenham sido elevadas ao terceiro grau da bruxaria.

2) em sentido amplo, bruxas/bruxos seriam: - as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que não tenham sido elevadas ao terceiro grau da bruxaria; - todas as demais pessoas praticantes de técnicas similares às das linhagens iniciáticas europeias mencionadas acima.


Com o surgimento da wicca em 1950, que se constitui numa fusão de bruxaria tradicional com magia ritual, e a divulgação pública de alguns princípios da bruxaria promovida pelo fundador da wicca, Gerald Gardner, e seus primeiros iniciados, podemos assinalar o início do neo-paganismo.

A partir de então, cultos pagãos foram retomados nos moldes originais (reconstrucionismo) e diversos grupos bruxos passaram a agregar informações e técnicas de outras origens a suas crenças e práticas, o que se acelerou com a revolução informacional de fins do século XX. 
 
Raízes

A Bruxaria Ancestral resgata as raízes pré-históricas da bruxaria de um tempo em que todas as formas de religiosidade se confundiam, milhares de anos antes de a ciência, a religião e a filosofia serem consideradas campos distintos. Representada pela Ordem Sagrada de Bennu, entidade cuja linhagem bruxa remonta a tempos imemoriais pela Tradição Ibérica, a bruxaria ancestral agrega conhecimentos de diversas origens, antigos e recentes, formando bruxos em sentido estrito plenamente capazes de aliarem o conhecimento materialista atual à sabedoria ancestral.

É anterior ao surgimento das Tradições e, por isso mesmo, a linha que liga todas elas, a chave perdida do significado mais profundo de todas as tradições. Não vem no intuito de substituí-las, mas de contribuir para a construção de uma forma de religiosidade nova e antiga ao mesmo tempo, uma religiosidade que atenda às demandas da civilização que, um dia, sucederá a atual.

Alguns grupos bruxos, considerando que religião requer uma estrutura institucional centralizada, dizem que bruxaria não é religião.

A Bruxaria Ancestral entende por religião todo e qualquer conjunto de técnicas, práticas ou conhecimentos que se proponham à religação do homem com a(s) deidade(s). Neste sentido, nos classificamos como religião.

Além da reintegração da ciência com a filosofia e a religião num só corpo, podemos destacar como nosso método fundamental para religação do ser humano com as deidades a reinserção deste no universo, o que muitos chamariam de reintegração à natureza, mas não com a profundidade e abrangência que nós, bruxos ancestrais, a compreendemos. Aos leigos, podemos resumir muito de nosso ponto de vista na mensagem de que a natureza não pertence ao ser humano, mas o ser humano pertence à natureza. 

 
 
Princípios


Pode-se dizer que o único valor da Bruxaria Ancestral é a verdade, e sua ética se resume à busca, à defesa, à transmissão e ao exercício da verdade. Não se trata, todavia, de defesa da sinceridade absoluta nem de dogma, sendo o primeiro o conceito mais corriqueiro da palavra verdade e o segundo o conceito abraçado pela maioria das religiões atuais. Da melhor compreensão do conceito de verdade, derivam os demais valores da Bruxaria Ancestral.
Obviamente, toda definição do conceito de verdade é presunçosa e incompleta, trazendo junto a si uma parte de ilusão. Desta forma, divulgar um conceito de verdade é também divulgar sua parte de ilusão, o que, paradoxalmente, protelaria a descoberta da verdade. O extremo oposto, a não definição do conceito da verdade, consiste em omissão e contraria a própria razão de ser e significado da Tradição, portanto, qualquer círculo que atue conforme a Bruxaria Ancestral não impõe dogma, mas estabelece linhas gerais de conduta. Ao mesmo tempo, o Sumo-Sacerdote/Sumo-Sacedotisa e/ou o Conselho de Anciãos, se houver, observa em cada adepto o florescimento de atitudes que, conforme seu entendimento, evidenciem avanço no conhecimento da verdade e, na proporção de tal avanço, concede informações adequadas ao patamar atingido pelo adepto em termos de: 1) esforço pessoal na busca do conhecimento e 2) exercício prático do que ele entende por verdade.

 
Livre-Arbítrio

Se chegarmos à compreensão de que mesmo um espírito iluminado, um mestre do mais alto grau, tem uma visão limitada da verdade e/ou que não se pode transmitir a visão da verdade de uma pessoa para outra sem grande desgaste do conteúdo, havendo ruídos de toda a espécie em qualquer forma de comunicação, tentar impor uma visão da verdade a quem quer que seja é mera demonstração de ignorância acerca de sua própria ignorância, de incapacidade de aprender, de estagnação ou degenerecência do processo de aprendizagem. Pode-se, e cremos que deve-se, estar plenamente convicto da verdade sem apegar-se a ela e sem presumir que visões aparentemente conflitantes com tal verdade estejam erradas. Na maior parte dos casos, conforme nossa experiência, as divergências entre credos ou teorias são: 1- semânticas; 2- preconceituosas; 3- mero fruto da ignorância mútua de informações/dados pertencentes a áreas de especialização diferentes; 4- resultado das muitas lacunas entre visões da verdade.
O livre-arbítrio como valor, para a Bruxaria Ancestral, assume, portanto, uma dimensão bem maior que a simples "não imposição". Trata-se do reconhecimento de que há alguma verdade no fundo de toda crença sincera, por mais louca que ela aparente ser, e da fixação do veio central de nossa busca na verdade que não conhecemos, e não na preservação da verdade que já conhecemos.
Este último pensamento pode parecer estranho à Tradição, mas na verdade tal pensamento se encontrava na base do que viria a se tornar cada uma das muitas tradições, e ao longo do tempo se perdeu.

O livre-arbítrio é também observado como a auto-avaliação, o julgamento do próprio executor do ato, levando-o às experiências necessárias para seu crescimento espiritual. Interferir numa escolha pessoal é, portanto, interferir no destino que a pessoa traça para si mesma, é negar uma experiência que a pessoa considera (na maioria das vezes não conscientemente) que precisa viver.

O desrespeito ao livre-arbítrio, mesmo sob a mais bem intencionada das bandeiras, é mera ilusão. A imposição se limita à esfera física, ou seja, pode-se obrigar alguém a praticar ou deixar de praticar os ritos de uma religião, ou ainda a deixar de cometer crimes, por exemplo. Mas isto não tornaria o praticante da religião em adepto nem o criminoso numa pessoa com espírito comunitário. O recurso da imposição pode ter efeito prático para a comunidade, mas não para o indivíduo.


A compreensão do livre-arbítrio sob esta óptica nos permite, ao mesmo tempo que fechamos as portas às pessoas que desejam apenas pinçar em nossas fontes informações para uso prático para fins estranhos à nossa visão da verdade, escancará-las a novas idéias, conceitos e práticas, desde que se revelem coerentes com nossa verdade. Assim, a visão que temos pode crescer e se aprofundar, sempre se pautando pelo entendimento, pela concordância, pela aproximação, e não pelo conflito ou divergência.

Livre-arbítrio não é escolher entre "certo e errado", livre-arbítrio é traçar seu próprio caminho mesmo quando o caminho escolhido for o de muitos outros. Para a Bruxaria Ancestral não existe certo e errado, existem apenas caminhos mais longos e mais curtos, mas cada um tem o seu caminho a percorrer, todos eles com muitas idas e vindas ao sabor dos ciclos. Por vezes corremos, por vezes andamos lentamente, por vezes tomamos atalhos e depois retornamos para resgatar o que ficou para trás, mas como diria Nitzsche, o homem é uma ponte entre o ultraterreno e o super-homem, e tem de se manter sempre em movimento para não cair desta ponte. Talvez possamos apenas acrescentar que este super-homem que almejamos ser torna-se, a cada passo, diferente, mantendo sua distância de nós até atingirmos a perfeição (e sermos absorvidos pelo Todo). Da mesma forma, o ultraterreno é o modelo ultrapassado, mas a cada passo o ultrapassado se torna outro, e assim se preserva a distância para trás da mesma forma que a para a frente à medida que caminhamos. Dentro desta metáfora, o exercício do livre-arbítrio é o caminhar. Sem ele, podemos ter a ilusão de estarmos seguindo junto com a correnteza, mas na verdade estamos estagnados, estamos cegos, pois o que não é feito sem surgir a partir de seu mais profundo íntimo é feito mecanicamente, e o que é feito mecanicamente não é transportado ao espírito. Se não tomamos as rédeas de nosso destino, se não fazemos escolhas e as delegamos a outrem, seja a um lider espiritual ou a um dogma, não estamos nos aproximando de verdade alguma, nosso corpo se move, temos sensações mas somos sempre os mesmos. É da crítica ao dogma e da tentativa de compreensão do que nos diz o mestre, mesmo quando o mestre é a própria natureza, que surge a luz.

Por fim, percebemos quão intimamente relacionados estão o livre-arbítrio e a verdade. Praticar o livre-arbítrio é buscar, se aproximar e concretizar a verdade.
Dogma Fundamental

Já mencionamos antes que consideramos que a natureza não pertence ao homem, mas que o homem pertence à natureza. Muito embora tenhamos por base argumentos racionais para considerar que o ser humano não é mais importante ou melhor que qualquer coisa existente na natureza, esta crença, que nos leva a rechaçar frontalmente o antropocentrismo, é uma característica distintiva tão importante que acabamos por considerar a igualdade de importância entre todas as formas de manifestação da natureza como nosso dogma fundamental.

Desde meados do século XX se fala em defesa da ecologia. Os povos antigos preservavam a natureza e, na óptica utilitarista da civilização atual, considera-se que é importante preservar a natureza em função da necessiade de manutenção da sustentabilidade da vida humana na Terra.

Ao observarem o quanto alguns povos antigos se preocupavam com a natureza, os cientistas revelam a mesma óptica utilitarista ao repetir em coro que os antigos faziam isto porque se encontravam mais que nós à merce dos fenômenos naturais. Mais um pouco de atenção e perceberiam que não se tratava de preocupação com a sustentabilidade da vida humana ou medo da natureza. Pelo contrário, as mais diversas tradições parecem acusar a existência de respeito e amor pela natureza.

Ao longo dos últimos milênios, o ser humano veio criando para si um conceito de ser superior, de ser acima da natureza, e se convenceu de que tal natureza estaria a seu dispor.

De fato, havemos de concordar, "a natureza" está ao dispor do homem, mas temos que acrescentar dois pontos: 1- o homem também está ao dispor "da natureza" e 2- o homem pertence à natureza.

Ao criar para si um conceito de "ser à parte de todo o resto da criação", o ser humano parece se esquecer que seu corpo se compõe dos mesmos elementos de que se compõem as pedras, os vegetais e os outros animais; não comenta que ao desencarnar devolve à terra o que dela retirou; não pensa sobre o fato de as primeiras células de seu corpo, portanto sua própria origem como ser humano, ter resultado de um mero ato sexual; que o mecanismo que leva o ser humano a causar danos ambientais é o mesmo que leva uma nuvem de gafanhotos, por exemplo, a destruir lavouras; que uma só explosão de um supervulcão, e já houve diversas na pré-história e com certeza ainda haverá no futuro, afeta muito mais danosamente o equilíbrio ambiental do que qualquer coisa que o homem tenha feito até hoje sobre a face da Terra.

Se o ser humano tem "algo mais" que os animais, esta é uma longa discussão que não cabe aqui, mas, independente da resposta, permanece o fato de que o ser humano (e este só é ser humano enquanto encarnado) não é mais que uma variável da natureza.

A Bruxa Ancestral não "defende a natureza", ela faz parte da natureza. A única diferença em relação a muitas outras crenças é que estamos conscientes disto, portanto, podemos nos situar junto ao resto da criação e nos irmanar tanto com humanos quanto com os demais animais, com vegetais e mesmo com minerais ou poeira cósmica.

Aos que reafirmam que a natureza está a nosso dispor, e não nós a seu dispor, como preferimos interpretar, concordamos desde o início que o corpo humano serve ao espírito que nele habita. Se, o que não achamos apropriado, considerarmos uma entidade desencarnada como um homem, negando que ele só é um homem se e quando encarnado num corpo de homem, ou seja, se desvincularmos o espírito do corpo e chamarmos de homem o espírito, então diremos que os elementos do plano físico (inclusive o corpo do homem) servem ao homem (o espírito encarnado), mas jamais diremos que a natureza serve a tal espírito, pois a natureza não se resume ao conjunto dos elementos físicos, ela alcança todos os planos do universo manifesto e engloba as relações entre seus elementos e as leis que a tudo regem.

Considerar o ser humano como um ente à parte da natureza limita o campo de busca da verdade ao próprio homem. Integrar-se à natureza, por outro lado, permite ao espírito lançar um olhar para a verdade que está além do alcance do homem
A bruxaria ancestral não considera a passagem do tempo de forma linear, ou seja, não considera que o tempo se acumula, mas que ele gira como uma Roda, que ao longo da translação da Terra ao redor do Sol repassa por cada um dos mesmos velhos pontos. A esta Roda, chamamos Roda do Ano, e ela é dividida em oito períodos marcados pela comemoração de quatro grandes sabates (com datas fixas) e quatro pequenos sabates (em solstícios e equinócios), que apresentamos adiante. Ao mesmo tempo, são comemoradas até treze lunações, através de esbates. Apesar do sistema diferente, o calendário gregoriano também foi feito com base em fenômenos astronômicos, e nos serve de referência na identificação das comemorações dos grandes sabates. Fixamos, entretanto, a data de início 20.000 anos antes do século profano em que entramos na Era de Aquário, época em que a bruxaria era a referência comum a todos os povos da Terra.

Esbates

As três faces da Deusa se apresentam sucessivamente à medida que a Lua cresce e decresce no céu. Assim, ao longo de uma lunação, há o momento de plantar, de colher e de ceifar. A cada Lua Cheia realizamos um esbate para acertarmos o ritmo de nossas vidas com a natureza, mas nada impede que um círculo que adote a Veneração Ancestral, por algum motivo específico, celebre ocasionalmente também alguma outra fase da Lua, muito embora aconselhemos não celebrar a Lua Negra (quando a Lua está do outro lado da Terra durante a noite).
O intuito de celebrar sabates e esbates é ajustarmo-nos ao movimento da Roda do Ano, ou seja, vivermos em nossas vidas a estação que o resto da natureza vive, a cada momento. Neste sentido, adotar a Roda Egípcia seria ineficaz, pois a cheia e a vazante do Nilo não influem em outras regiões do planeta. Da mesma forma, para quem está no hemisfério sul, celebrar os sabates nas datas celebradas no hemisfério norte não ajudaria a se colocar em fase com o Ciclo da Natureza, pois quando é verão em um hemisfério, é inverno no outro. Optamos, portanto, pela comemoração dos sabates de forma similar à da Roda do Ano Celta e conforme o hemisfério no qual estivermos.

Tempo dos Idos (1º/mai no hemisfério sul e 31/out no hemisfério norte) - O ano bruxo se inicia no frio e escuro meio do outono. Nesta data se celebra o Tempo dos Idos, conhecido pela tradição celta como Samhain. Na verdade, no dia deste sabate se considera que o ano acaba, mas por três dias o outro ainda não começa. E como se passa a estar fora do ano que se foi e o outro ainda não começou, trata-se de um período fora do tempo, onde vivos e mortos, bem como seres naturalmente desprovidos de corpo físico, podem se encontrar. 

Festa do Inverno (20 a 23/jun no hemisfério sul e 20 a 22/dez no hemisfério norte) - A Festa do Inverno, Yule, pela tradição celta, é comemorado no solstício de inverno, menor dia do ano, mas, justamente por isso, é o momento de renascimento do Sol, ou seja, a partir da celebração da Festa do Inverno os dias começarão a crescer. É, por assim dizer, o "natal" dos bruxos. 

Festa das Candelárias (1º/ago no hemisfério sul e 2/fev no hemisfério norte) - Na noite que prescede Candelárias, os bruxos carregam velas acesas em procissão, representando a vida que começa a ganhar força sob as neves, a luz que ainda é fraca para afastar o frio e as trevas, mas que já se encontra em seu caminho. É um tempo de renovação das esperanças.

Festa da Primavera (20 a 23/set no hemisfério sul e 20 a 23/mar no hemisfério norte) - Os sinais que, em Candelárias, eram vistos apenas pelos sábios, se tornam visíveis a todos com o equinócio de primavera. A vida já começa a florecer, e os bruxos celebram o efetivo retorno do Sol. É a páscoa dos bruxos, e os elementos que a representam são os mesmos: ovos e lebres, respectivamente símbolos da origem da vida e da fertilidade.

Beltane (31/out no hemisfério sul e 1º/mai no hemisfério norte) - Abrindo a Metade Clara da Roda do Ano. O Sol se encontra jovem e forte, fertilizando os campos e aquecendo nossos sentimentos. De dia, o mastro de maio é levantado e as crianças dançam ao redor dele com fitas coloridas que se entrelaçam. Nas comunidades bruxas, uma música é tocada e uma fila de festejantes entra e sai das casas dançando, levando alegria e boa sorte a todos. À noite, os adultos acendem uma grande fogueira e dançam ao redor dela assim como a Terra gira em torno do Sol. Celebram o calor e o amor, casais se amam ao luar, pulsando a energia da vida que abunda neste dia/noite especial.

Festa do Sol (20 a 23/dez no hemisfério sul e 20 a 23/jun no hemisfério norte) - No solstício de verão se comemora a plenitude do Sol. O sabate chamado Litha pela tradição celta é caracterizado pela abundância de alimentos, pois se trata da época da primeira colheita. É o momento em que as bruxas colhem suas ervas especiais, pois trazem com elas o máximo que poderiam absorver do poder solar. Embora seja também um momento destinado aos prazeres, ao contrário de Beltane, a Festa do Sol marca o auge e, em conseqüência, o início do declínio do poder solar, pois a partir do solstício de verão os dias começam a se tornar mais curtos. Portanto, deve-se aproveitar a Festa do Sol para marcar firme na lembrança seu maior esplendor e tudo aquilo que ele proporciona, para que, em momentos de dificuldade, tenhamos um horizonte menos sombrio ao olhar para futuro.

Festa da Cornucópia (2/fev no hemisfério sul e 1º/ago no hemisfério norte) - Conhecido como Lammas, pela tradição celta, na Festa da Cornucópia a mesa é farta, abastecida pela principal safra do ano. Colhem-se os frutos deixados pelo Sol e se comemora a abundância, centrando-se nos prazeres gastronômicos.

Festa das Graças (21/mar no hemisfério sul e 22/set no hemisfério norte) - No equinócio de outono se comemora a última colheita. A tradição celta chama a este sabate de Mabon. Agradece-se à Deusa e ao Deus pelo que nos proporcionaram e, quem pode, partilha alguns víveres com aqueles que tiveram menos sorte, mas todos nos preparamos para a virada da Roda, pois no sabate seguinte começa a Metade Escura. Os dias já se tornaram menores que as noites, e o Sol, assim como a vida, logo começará uma espécie de período de hibernação.

Prática

A rotina da Bruxaria Ancestral não difere muito da de outras vertentes de Bruxaria Tradicional. Comemoramos sabates e esbates para facilitar caminharmos de acordo com o fluxo da natureza, meditamos e estudamos, visando nossa evolução espiritual e, eventualmente, praticamos diversas modalidades de magia, não para prejudicar outras pessoas, mas para interceder a favor de seu aprendizado e promover o bem comum.

Consideramos que, assim como ocorre com a acumulação de qualquer tipo de poder, a responsabilidade de usar a magia é tão grande quanto o poder mágico que se obtém. Poder agir e não agir é tão danoso quanto errar ao agir. Todavia, para julgarmos corretamente se e quando devemos interferir no desenrolar dos fatos, seja através de magia ou não, é preciso observar a questão por uma óptica expandida, ou seja, considerar não o sofrimento imediato da(s) pessoa(s) envolvida(s), mas a utilidade da experiência pela qual ela está passando para seu aprendizado. Tendo isto em mente, é absolutamente inadequado aplicar os conceitos de bem e mal cristãos para decidir quando, como e se devemos intervir no que se passa.

 Resumindo................

Bruxaria ancestral - Raiz comum a todas as tradições bruxas; conjunto de conhecimentos, práticas e crenças que serviram de base à formação do esoterismo das primeiras tradições de cunho religioso desta civilização a partir do fim da última Era Glacial.
Bruxaria hereditária - Tradição bruxa passada exclusivamente dentro de linhagem familiar; bruxaria familiar; magia característica de bruxas hereditárias.
Bruxaria moderna - Tradição bruxa cuja linhagem se originou após a Idade Média; magia característica de bruxas modernas.
Bruxaria tradicional - Tradição bruxa cuja linhagem se originou durante ou antes da Idade Média e não foi interrompida; magia característica de bruxas tradicionais.
Bruxaria verde - Conhecimentos e práticas da bruxaria ligados aos diversos usos das ervas, em especial, e de plantas, em geral. 

VENERAÇÃO ANCESTRAL

O Sistema da Veneração Ancestral não pode ser divulgado abertamente. Conhecer Deusas e Deuses é ter acesso a energias que fogem do escopo da compreensão científica e que requerem um aprendizado cuidadoso para que não revertam em prejuízo ao aprendiz e/ou a quem lhe rodeie. Tendo isto em mente, divulgamos aqui apenas algumas poucas informações sobre uma Deusa e um Deus venerados na Ordem Sagrada de Bennu, reservando informações mais completas sobre o sistema da Veneração Ancestral aos adeptos.

Para melhor compreensão, é preciso alertar que deidades ancestrais não são deidades egípcias, nem pré-colombianas, nem indianas, nem chinesas ou polinésias, mas deidades pré-glaciais que serviram de modelo para a criação de deusas e deuses destas e de muitas outras antigas civilizações. À medida que as condições ambientais mudavam, tais deidades foram tendo seus atributos desmembrados entre deuses pós-diluvianos. Notamos ainda que, em alguns aspectos, deuses de civilizações pré-colombianas guardaram, com maior precisão que os egípcios, a face original dos deuses Ancestrais; noutros aspectos, deuses celtas fizeram ressurgir com maior fidedignidade alguma face de uma deusa ou de um deus ancestral, mas para compreender as deidades ancestrais temos de olhar para um passado mais longínquo e ao mesmo tempo para o futuro.

Ao longo da descrição dos atributos das deidades se observará ocasionalmente a expressão "conforme revelado". A revelação ocorre quando um adepto, em estado alterado de consciência, recebe uma mensagem diretamente das deidades. Isso pode parecer mistificação, mas a revelação é uma forma de aquisição de informações comum a muitas formas de religiosidade, muito embora deva ser recebida com extrema cautela afim de minimizar o risco e ser mera criação do adepto ou de ter sido uma informação transmitida não por deidades, mas por alguma entidade ou qualquer estímulo presente. 
                                                                              A Deusa

Hator, conforme revelado, é a Deusa. A grosso modo, compõe-se como Deusa tríplice, sendo que partes de cada um de seus três aspectos fundamentais correspondem às deusas egípcias Hathor, Ísis e Nut. Hathor, a Deusa da alegria e da dança; Ísis, o trono sobre o qual se sentava o faraó, a verdadeira sede de seu poder; Nut, o céu sob o qual o mundo foi criado, o firmamento onde a criação se deu. Na Veneração Ancestral, Hator (repare a grafia sem h, conforme revelado) é a amante e menina, a mulher e a terra (diferente do panteão egípcio, onde a terra é Geb, seu consorte), a mãe e o céu; é a alegria que muitos esquecemos na infância, a responsabilidade e o amor maternos, ao mesmo tempo é a sensualidade desprovida de malícia, a dedicação não submissa, o calor envolvente de um abraço sincero. É Hator que dá a vida, é dela que tudo provém. Dela nasceu o próprio Deus, em seu ventre Ele se deita, em seus seios se alimenta e do vazio de seu útero Ele ressurge.

Na Veneração Ancestral é costume representar Hator na forma humana da Hathor egípcia (imagem ao lado), uma mulher de pele morena e quente, magra com belas formas, olhos escuros e olhar muito vivo. Suas feições são muito semelhantes às representações de Ísis e, assim como ela, porta sobre a cabeça o disco solar dentro do arco lunar, que é a representação de ser a gestadora do Deus solar. As formas alternativas da Deusa egípcia Hathor, por outro lado, seja como vaca ou como mulher com orelhas de vaca, evocam apenas uma das três faces primárias da Hator ancestral.
                                                                                   
 
 
O Deus

Kher-Nun, conforme revelado, é o Deus. Ele é o poder fertilizador, o Senhor das Florestas e da virilidade. É a força da vida e o Sol que abençoa a vegetação. Não se trata de um Deus duplo. A forma humana das águas primordiais, chamada pelos egípcios de Nun (imagem ao lado), representa apenas o que os egípcios conseguiram manter em sua lembrança do corpo do Deus ancestral (não apresentamos ou descrevemos aqui a imagem de Kher-Nun adotada pela Bruxaria Ancestral), mas seu espírito é Kher, a palavra, o poder da palavra, o poder do discurso, o sacerdote que comanda a palavra, a voz que comanda os exércitos, a vitalidade que move a matéria, o calor que anima. A vida nasceu das águas primordiais sob o comando de Kher-Nun, Ele estava no início dos tempos sob Nut (o céu), cobrindo toda a terra. Em seu corpo abrigou os seres das águas e do fogo, assim como, mais tarde sustentou os da terra e os do ar. Tal e qual Khnum (Deus das cheias do Nilo), ele, ainda hoje, molda o corpo dos homens a partir do barro, mas vai além disto, pois molda todos os seres e todas as formas, desde as pedras até o ar. Ele não dá a vida, mas ele constrói a vida e a preserva. Seu poder é imenso e se manifesta de forma constante e firme, não de forma abrupta.

Enquanto no Egito, com a desertificação do norte da África, Kher-Nun caia em esquecimento como o distante Nun da cosmogênese, sendo seu caráter principal resgatado mais tarde na forma de Khnum (aquele que traz a lama que fertiliza o Nilo), na Europa, tornou-se Cernunnos, uma versão muito mais agressiva e bestial do que era em tempos pré-glaciais. Todavia, não é só o nome que denuncia a ligação, os traços principais estão ali: os chifres da virilidade, o Senhor das Florestas e da vida que ali existe, seja animal ou vegetal. O Sol e a água, a antiga receita da agricultura numa terra originalmente de caça.

                                                                   Bruxos, Magos e a Essência da Bruxaria
Sempre soube que bruxos e magos são como azeite e vinagre, mesmo quando juntos, jamais se misturam,para falar sobre isso e de tal simplicidade emanou cristalina a natureza da essência da bruxaria original, uma essência escandalosamente incompatível com o dogma mais fundamental da Alta Magia (prática dos magos), um dogma que se encontra também incrustado na lógica e na ética da civilização judaico/cristã.

Em palavras simples, magos, judeus e cristãos consideram que o ser humano é "superior" e portanto "mais importante" que os demais seres vivos. Crendo sinceramente nisto, religiosos e ateus se irmanam na apropriação de vidas em seu benefício, levando a dor e a morte a rebanhos incontáveis, dizimando florestas e alterando a face do planeta, bem como diversas camadas da atmosfera, como se estivessem apenas consumindo um presente que receberam.

Diante da inexorável resposta de Gaia, alguns levantam o primeiro véu de seus delírios de "ser superior" e se dão conta de que pelo menos precisam da natureza para viver, lançando-se em campanhas ecológicas que tem por mote principal os riscos que o ser humano corre ao não respeitar a natureza.

Magos podem ser entendidos como os ocultistas da tradição judaico/cristã. Suas bases são a cabala judaica e toda a lógica que seguem também se fundamenta no antropocentrismo, na presunção de que o ser humano é o ápice terráqueo da manifestação divina e que, por isso, poderia ou até mesmo deveria comandar tudo o que aqui se passa e existe. Os magos criaram uma categoria de magia para si mesmos, à qual chamaram Alta Magia, e consideraram os bruxos como praticantes da "Baixa Magia", como se alguém dissesse por aí: eu pratico baixa magia!!!

Toda a operação mágica de magos é calcada na crença na superioridade humana, pois o mago controla os elementos e os coloca a seu serviço; escraviza entidades e lhes designa missões; dispõe da natureza visível e invisível conforme considerar conveniente para si ou seu grupo.

Em seu discurso, dizem atuar sob os desígnios divinos, mas na prática parecem considerar a si mesmos como a divindade, e assim a vontade divina se confunde com a vontade do mago. 

Ao observar o momento nos céus, os magos pensam em seu potencial de magia; ao conhecer as plantas, pensam em sua utilidade; quando as portas de outros planos de existência se abrem para eles, vão em busca de entidades que lhes possam ser úteis no desempenho de "missões" ou as intimidam por mera diversão.

E o bruxo com isso?

Nada.

Nada porque a base mais fundamental da bruxaria, aquilo que distingue mais claramente o bruxo de todos os demais humanos, incluindo pretensos bruxos enganadores e enganados, é a percepção de que o ser humano é apenas mais um grão de poeira neste imenso cosmos, visível e invisível. E em decorrência disso, se sente um com a natureza, não seu proprietário; observa o caminhar aparente da Lua e do Sol como sinais do Grande Ciclo, não como oportunidades; olha para as plantas com amor, não com ganância; conhece outras entidades com respeito e interesse, não com espírito imperialista.

Talvez não esteja suficientemente claro o que seja "ser um com a natureza" para um bruxo, assim como não deve estar claro o quanto consideramos a natureza sagrada.

Afirmamos tais coisas sem subterfúgios, não achamos que, em meio à natureza, o ser humano mereça papel de destaque ou predominância. A simples pretensão de superioridade ou "papel de gerente" é por si só incompatível com a ideia de integração do homem à natureza. A tão propalada, hipervalorizada inteligência humana não sobreviveu ao teste do tempo (enquanto os dinossauros estiveram no topo da cadeia alimentar por 300 milhões de anos, o homem civilizado não tem mais de 9 mil anos) nem das grandes catástrofes (o último evento catastrófico de escala global foi a explosão do supervulcão Toba, há aproximadamente 60 mil anos). No que concerne aos dados de que podemos dispor, sobre desastres de menor expressão, de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro até o tsunami de 2004 no Oceano Índico, animais não humanos tem sido mais eficazes do que nós, com toda nossa tecnologia, em antecipar, se proteger e sobreviver a catástrofes.

Mas perceba que falamos disso para quem não vê como nós apenas para mostrar a falta de sentido em se pretender que os humanos sejam superiores, porque para um bruxo, pouco importa ter poderes ou capacidades, isso não fará de ninguém uma deidade. Somos seres ínfimos assim como qualquer ser vivo. Nossos poderes são ridiculamente patéticos se comparados aos de uma inanimada nuvem de poeira cósmica. Nossos sentidos captam uma faixa de frequência muito inferior à de outros seres vivos e ainda assim se somarmos todos os sentidos extremos de todos os seres vivos, chegaríamos a uma fração desprezível de tudo o que efetivamente nos cerca. O ser humano vive em condições muito restritas de gravidade, temperatura, luminosidade, radiação dependendo de uma atmosfera pateticamente fina se comparada ao diâmetro do planeta Terra. E o próprio planeta Terra, se estivesse um pouco mais próximo do Sol ou um pouco mais distante, se girasse um pouco mais rápido ou um pouco mais devagar, se tivesse um campo magnético um tanto mais fraco, não teria condições de sustentar a vida.

Mas isso não incomoda um bruxo, porque somos parte de tudo isso que nos cerca, e buscamos a harmonia com todas as manifestações da criação. Ao pó retornamos, diz o padre no último adeus. Não se apercebe de que ele ainda é pó, que todos nós somos pó, tudo é pó, ás vezes brilhando ao Sol, ás vezes orvalhado à luz da Lua, mas ainda assim, nada mais somos do que pó.
                                                                 
 
      Revisão do Conceito de Paganismo

Virou lugar comum dizer que paganismo é a crença dos camponeses, crença da gente do campo. Este velho discurso introdutório está na boca de curiosos, de autodidatas, de membros e representantes de organizações bruxas e até mesmo nos lábios de sumo-sacerdotes/sacerdotisas bem como de representantes de tradições bruxas da atualidade. Todavia, paganismo não é crença de camponês nem mesmo em sua origem, o que dirá na atualidade...

Numa reunião aberta, curiosos, praticantes e estudiosos da bruxaria se voltam para o palestrante, que com ar enfadonho de quem declara o óbvio, como se fosse uma verdade já cristalizada e de conhecimento comum, diz: “Paganismo vem da palavra latina paganus, que significa camponês, então, paganismo é a religião dos camponeses, a religião da gente simples do campo, a religião do povo.”

Na igreja, uma senhora idosa credenciada pelo pároco ensina aos candidatos a padrinhos: “tem gente que diz que é pagão ou neopagão, mas não são coisa nenhuma. Se foram batizados, não são pagãos, não importa o que digam por aí.”

Ora, tanto wiccanos quanto cristãos podem compreender e usar as palavras pagão e paganismo com os sentidos que bem entenderem, conforme lhes seja útil, mas, sem sombra de dúvida, estes significados foram adquiridos por derivação, estando muito distantes do significado original. Ao menos para nós bruxos tradicionais, vale a pena retomar o sentido original da palavra pagão. Quem sabe os wiccanos também chegam à mesma conclusão após ler este texto... 

Paganismo vem sim da palavra latina paganus, mas podemos traduzi-la melhor como aldeão do que como camponês. Na época do Império Romano, aldeão e camponês eram conceitos praticamente indistintos, as aldeias ficavam no campo e as crenças presentes nos poucos centros urbanos eram inspiradas na cultura romana ou grega, pouco tendo a ver com a cultura do povo local. Prosperava quem se integrasse ao modus vivendi romano. Hoje, aldeão é quem mora num pequeno centro urbano, mas ainda assim um centro legitimamente urbano; e camponês, quem mora no campo.

Ainda assim, paganismo não é a cultura de quem mora ou morava em pequenos centros urbanos. Para compreender isso, precisamos recuar mais no tempo e analisar a palavra grega para pagão.

Em grego, lingua mãe do latim, pagão é xênos, que também significa estrangeiro.

Nada mais lógico para o contexto, pois o paganismo seria a crença do estrangeiro.

Mas que estrangeiro seria este?

Não o cristão, pois o cristianismo ainda não existia; não o muçulmano, pois o islamismo ainda não existia. O que havia era a religião de cada local, a religião da terra do estrangeiro.

Muito lógico para uma época pré messiânica, em que a religião era uma expressão cultural de um povo. Assim era com os judeus, assim era com cada cidade do Egito antigo mesmo após a unificação, mesmo após a invasão árabe e ainda durante a dinastia Ptolemaica, e assim foi com os povos conquistados pelo Império Romano até a conversão compulsória ao cristianismo.

Paganus vem de pagus, e pagus significa terra. Terra não no sentido de área rural, como já ouvi alguns dizerem, mas no de espaço geográfico, o que é plenamente coerente com o conceito grego de pagão.

Para os romanos, como conquistadores do mundo de sua época (ignoravam os orientais, os autóctones americanos e a maior parte dos africanos subsaarianos), pagão era aquele que mantinha a religiosidade típica da região conquistada, não adotando os Deuses romanos (posteriormente o cristianismo), ou seja, paganismo era nada mais que a religião do povo local.

Considerar o paganismo como a religião da gente simples do povo é, portanto, mais do que um embaraço com as palavras, é um erro que traz o risco de ignorar um dos fundamentos mais universais do paganismo: o respeito às especificidades locais da religiosidade, o espírito da terra que fala através de seus habitantes.

Paganismo, para nós bruxos ancestrais, assim como para os antigos romanos, é o conjunto de crenças locais, a forma de religiosidade autêntica encontrada em cada grupo cultural. Ele pode ter um eixo comum a quase todas suas expressões, mas buscar incutir uma só forma de expressão a diversos povos e regiões é a mera reprodução do que fizeram/fazem o cristianismo e o islamismo, nada além de aculturação. 

                                                                              Mestres Bruxos

O que o aprendiz espera de um mestre? Qual a missão de um mestre? Precisamos de um mestre? Que riscos corremos sem ele? Existe o mestre embusteiro, o falso mestre? Que riscos corremos nas mãos dele?

Mestres bruxos costumam ser idealizados por aprendizes como seres sobre-humanos, fontes inesgotáveis de proteção e sabedoria, espíritos que emanam bem estar e segurança com sua simples presença física, seres que demonstram seus dons incomuns e seu domínio sobre técnicas que fogem completamente ao alcance da ciência. Os aprendizes geralmente esperam dominar o que seu mestre domina, despertar em si seus dons maravilhosos e conseguir sua sabedoria. Se acham no caminho de aprender a bruxaria mas se colocam na posição de ovelhas suplicantes por um pastor que lhes dirija. A maioria não vai ao encontro do mestre buscando por esclarecimentos, ao contrário, ficam no aguardo de comandos, instruções, e acreditam que, se lhes seguirem as palavras, um dia o mestre reconhecerá seus esforços e lhe dará em um toque o domínio sobre os elementos, os sentimentos, a mente e, quiçá, o espírito.

Não poderiam estar mais enganados. Em primeiro lugar, iluminados ou não, mestres são pessoas sábias, mas como encarnados, vivem os mesmos dramas diários de qualquer um. Sua missão não é passar o conhecimento sagrado, isso pode ocorrer como pano de fundo, mas o que os mestres realmente buscam é fazer com que o aprendiz aprenda a caminhar sozinho. Ao contrário do que muitos pensam, a maior prova de sucesso de um mestre é ser superado por seus iniciados. Mas as glórias, assim como as derrotas, dependem muito pouco do mestre. Cabe ao aprendiz aprender; ao mestre, orientar. Digo e repito, sem cansar, que a caminhada é sempre solitária, que o aprendiz, por mais que esteja sendo orientado, tem de caminhar sozinho para aprender. Um mestre que leva o aprendiz sobre os ombros não está atuando como um mestre, não está ensinando o aprendiz a caminhar. Mas é sensato prescindir de um mestre e caminhar sozinho desde o início?

Mestres são dispensáveis, mas se não o tivermos, corremos riscos que não precisaríamos correr. Quem tenta acessar alguma área reservada do site da Ordem Sagrada de Bennu é direcionado para uma página com a imagem de uma caveira sobre um caldeirão sob o qual está escrito: "Cuidado, bruxaria sem mestre gera risco de doenças, loucura e morte." Isso não é uma brincadeira, é um aviso, pois o risco é verdadeiro. Estranho que os livros de bruxaria alertem tão pouco sobre isso quando o assunto é uma constante em livros de alta magia e de teosofia. Ao despertar em si processos desconhecidos, a transformação pode não ser bem o que se esperava; além de o mestre poder evitar armadilhas em que caímos no processo de aprendizagem, algo não previsto nos livros aos quais a pessoa tem acesso pode acontecer, e nestes casos, a quem o aprendiz vai recorrer se não tiver um mestre?

Uma criança não deixará de chegar à idade adulta por ser órfã desde cedo, mas isto não significa que crescer sem pais seja uma opção preferível.

A confusão não termina aí. Muitas pessoas que se acham 100% independentes, que se consideram bruxas solitárias, não se dão conta de que adotam mestres temporários quando assistem a palestras, participam de rituais abertos, de eventos pagãos, de comunidades bruxas, de dinâmicas ou vivências esotéricas. E aí pululam falsos mestres, embusteiros que, bem ou mal intencionados, só ampliam o risco, vampiros de toda a espécie e crianças que expõem a si e aos outros a situações perigosas.

Um mestre não é alguém a quem se deva "obediência", é alguém que nos ensina, alguém que ouvimos com atenção, alguém em quem acreditamos e, pelos menos em algum aspecto, admiramos. Não estabelecer um vínculo iniciático com ninguém não é sinônimo de não ter mestres. Então, escolham bem seus mestres, mesmo quando optar por não se afiliar a nenhuma linhagem bruxa. Afinal, é mais fácil encontrar embusteiros posando de mestres em rituais públicos do que fechados em coventículos; o sábios não são dados a pavonices, preferem qualidade a quantidade, não precisam nem querem provar nem a si mesmos nem a ninguém que são bons, querem apenas ser úteis.

Então existem falsos mestres?

De um certo ponto de vista, sim. Poderíamos, talvez, chamar de falsos mestres aqueles que não têm sabedoria, aqueles que atuam visando o benefício pessoal, mesmo quando tal benefício seja apenas a promoção pública, mesmo quando não busquem nada além de afagos egóicos ou reconhecimento de méritos inexistentes.

Mas por que ainda resta dúvida se devemos chamá-los de falsos mestres?

Porque mesmo que eles não tenham jamais aprendido aquilo que pretendem ensinar, aqueles que se acercam de embusteiros o fazem porque precisam, na fase em que estão, de duras lições, lições que aprenderão da pior forma possível, sendo enganados, explorados e vampirizados.

Quando acordarem do pesadelo, ainda que levem muitas vidas para acordar, poderão identificar com muitíssimo mais clareza o que é sábio e o que é estúpido, e seguirão lépidos a favor da correnteza.

Crianças ganham anti-corpos ao lidarem com a sujeira; aprendizes ganham clareza mental ao lidarem com embusteiros.

                                                                                O Olhar da Bruxa

Livros best-seller na cabeceira, athame na bolsa, pentagrama de prata no peito, caldeirão negro de ferro, velas coloridas e incensos, associação em coventículo, ritualização de sabates e esbates, leitura de tarô, roupinha preta por cima, um discurso ecológico e está pronto o pacote, fez-se mais uma bruxinha pret-à-porter, que vai curtir o personagem até passar pelo ritual profano da entrevista de emprego e se ver obrigada ao exercício de uma profissão capaz de sustentar dignamente a si e aos seus.

Será que ela chegou a ser realmente uma bruxa?

Ah, sim, ela foi iniciada e depois elevada até o terceiro grau, a tradição dela é Gardneriana, ou Pré-Gardneriana, o mestre é reconhecido, tem até livro publicado... O que lhe faltaria para ser considerada uma bruxa?

O Olhar, O Olhar da Bruxa.

É um olhar maroto, sedutor, ameaçador, misterioso, amoroso, suplicante, profundo, indecifrável ou o que? Por acaso ele solta centelhas?

Sim, isso tudo e muito mais. E sim, solta centelhas, mas para vê-las você teria que ter, também, O Olhar da Bruxa. Porém, isso tudo é o que vai para fora dO Olhar da Bruxa, não o que vem a dentro.

Então, o que a bruxa vê com seu Olhar?

Ah, ela vê magia onde você não vê; seres místicos onde o vento sopra, onde o Sol reflete, onde a Lua brilha; vê a teia em que os homens se perdem, bem como a linha que a tudo une; o infinito no modesto e o grandioso no sem pretensões; vê luz na escuridão e é cega aos faróis que atraem os homens como nuvens de mariposas; na solidão, se vê acompanhada, e nos grandes aglomerados humanos, identifica a loucura; vê o tempo além do tempo e o tempo fora do tempo e do espaço.

Onde os olhos dos cientistas buscam o conhecimento, O Olhar da Bruxa rastreia a sabedoria e faz aprender fora e além de livros e de práticas receitadas seja por quem for. O que invade O Olhar da Bruxa excede em muito os elementos do universo percebido pelos cientistas, e este Todo expandido além do infinito, além do espaço-tempo, se revela como mera interação entre deidades.

Diante das evidências, a detentora dO Olhar da Bruxa devora o profano e o torna sagrado, pois o espaço entre o sagrado e o profano é do tamanho exato da ignorância espiritual. Cada fato, cada coisa, cada pessoa, cada planta ou animal, cada pedra, cada som e cada chama, cada pó e cada raio de luz, cada pensamento, cada sonho e cada sentimento, cada gozo, cada sofrimento, tudo faz parte do sagrado se conseguimos olhar para lá com os olhos de uma bruxa.

E os apetrechos, a bruxa não usa? São um engodo para bruxas de butique?

Sim, ela usa, ou não. Os fabrica e, quando não pode fabricá-los, os compra quando quer, se quiser e para o que quiser. É seu Olhar que a leva aos artefatos, não são os artefatos que despertam seu Olhar. Uma bruxa não precisa participar de rituais, não precisa de athame e de roupas negras, não precisa ser reconhecida como bruxa nem esconder sua identidade, ela faz e usa o que quer, porque quer, quando quer e da forma que quer. Mas com um querer maduro que não expressa revolta nem auto-afirmação, um querer que tem origem em sua visão da Deusa.

O Olhar da Bruxa revela-se, portanto, como maior que a sociedade, mais poderoso que a própria civilização. Ao ir trabalhar num local profano, mesmo entre materialistas, sua portadora sacralizará o ambiente e, sem tentar, acabará por influenciar alguns, ao invés de renunciar a uma visão de universo infinitamente mais ampla que a dos profanos.
                                                                        A Vida de uma Bruxa 

Ao se ouvir falar em bruxa, qual a imagem nos vem à mente? Uma jovem nua colhendo ervas no campo com sua foice prateada? Uma mulher preparando poções em seu caldeirão? Uma senhora servindo chá curativo e lendo a sorte no tarô?

Sabemos que o perfil de bruxas de verdade atuais não se resume a tais estereótipos, mas, então, como é, hoje em dia, a vida de uma bruxa?

Raríssimas exceções à parte, bruxas e bruxos, desde criança, são submetidos aos mesmos desafios e preocupações de pessoas de outros credos. Precisam estudar, passar no vestibular, namorar, conseguir um bom emprego, trabalhar duro, ganhar dinheiro para se sustentar, criar uma família, ajudar os filhos a se colocarem na vida...

Cada drama comum na vida de não bruxas pode ser encontrado em igual proporção na vida de pessoas não bruxas. Todos sofrem traições, decepções, doenças, dificuldades financeiras; todos penam com chefes narcisistas e incompetentes, professores que descontam suas frustrações pessoais nos alunos, colegas que criam intrigas...

Então, o que as bruxas têm de diferente?

Algumas se vestem quase sempre de preto, mas o ditado católico também vale para nós: o hábito não faz o monge.

Bruxas celebram a Roda do Ano e a maioria também celebra a Lua Cheia, porém, as celebrações propriamente ditas não são exatamente um modo de vida, são apenas festivais.

Preparam chás, alimentos enfeitiçados e misturas de incenso que curam e alteram o psiquismo das pessoas, entretanto, quem não domina bruxaria também toma e oferece estimulantes como café e chimarrão, prepara iguarias afrodisíacas para jantares íntimos, se perfuma para se tornar mais desejável...

Há alguns métodos, todavia, que são diferentes entre bruxas e não bruxas. Por exemplo, enquanto não bruxas consultam seus analistas e amigas, bruxas consultam oráculos, as Deidades, os espíritos e/ou os mestres; enquanto não bruxas promovem movimentos contra seus inimigos, bruxas usam feitiços de banimento; mas em essência, o uso de tais instrumentos não caracteriza uma bruxa e está longe de ser rotineiro, como o vulgo imagina ser.

Retornamos, então, à dúvida inicial: como é a vida de uma bruxa?

É igual à de uma pessoa não bruxa. Ambos passam pelas mesmas etapas, sofrem os mesmos dramas e usam recursos similares. Mas há uma diferença fundamental entre a vida de uma bruxa e a de uma não bruxa: a forma como ela vê o mundo à sua volta. E quanto mais aprende uma bruxa, mais sagrado seu mundo profano se torna. As paredes de alvenaria se tornam barreiras transponíveis, a poluição se revela como mensageira do fim de uma era, as flores que rebentam entre a calçada e asfalto formam gotas de luz que escorrem dos olhos da bruxa e o céu e a Terra se tornam, enfim, maiores que a cidade.
Enfim, àqueles que se queixam de falta de tempo para praticar a Arte, deixo uma fração da sabedoria verdadeira de um mago de ficção, Gandalf o cinzento: "Não importa quanto tempo temos, o que importa é o que fazemos com o tempo que nos é dado."
Traduzindo para o caso específico, vivam a vida de uma bruxa e já estarão caminhando na Arte. Parem de classificar o mundo, percebam-no como ele é!.
 
Raízes Bruxas

Qual a origem da bruxaria? Que povo, que cultura plantou a semente da bruxaria e com que águas suas raízes foram regadas?

Localizar as raízes bruxas é essencial para a compreensão do próprio significado da bruxaria, mas a resposta para tais perguntas está escondida atrás de uma questão ainda mais polêmica: a prévia definição de bruxaria. De que bruxaria estamos falando, de que bruxaria estamos buscando a origem?

A maioria dos leitores optará por definir bruxaria como um conjunto de crenças e práticas que teriam surgido na Europa durante a Idade Média, uma espécie de reciclagem de mitos pré-romanos, em parte como resposta à lacuna deixada após a queda do Império e, noutra, como o resgate da cultura anterior à dominação romana, a redescoberta das raízes culturais e da tradição local européia.

Talvez este seja o melhor entendimento sob o ponto de vista histórico, e ele não nos levará muito longe do caminho que devo sugerir. Todavia, cabe questionar a lógica de tal pensamento: se a bruxaria nasce como reconstrução de tradições pré-romanas, não seriam suas raízes, também, pré-romanas?

E se Roma é um subproduto da cultura helênica, não devemos apontar nossas investigações para o crescente fértil, que deu origem à própria cultura grega?

A pergunta é retórica, pois se a bruxaria tivesse surgido na Idade Média sem estar ligada a nenhuma tradição, se desenvolveria espontaneamente, o que significa que seus conhecimentos seriam de domínio público, assim como eram públicas as crenças judaicas, até que a Igreja interviesse, coibindo as crenças pagãs. Mas o fato é que o saber bruxo sempre foi reservado a membros seletos de alguma organização ou linhagem, assim como o saber do xamã também sempre foi passado individual e criteriosamente, não em grupos e indistintamente como o fazem as religiões contemporâneas.

Evidencia-se, então, pelo simples raciocínio acima apresentado, que a Tradição Bruxa é anterior ao início da expansão de Roma, portanto, muito anterior à Idade Média.

Buscar as raízes bruxas é buscar as origens das primeiras culturas européias. Mas estamos falando de um momento em que a cultura não existia oficialmente na Europa, senão como uma combinação de traços das comunidades autóctones com as influências das civilizações do norte da África e do Oriente Médio.

Agora podemos retornar às indagações originais: Qual a origem da bruxaria? Que povo, que cultura plantou a semente da bruxaria e com que águas suas raízes foram regadas?

Posso afirmar que, nas tradições bruxas européias que subsistiram até hoje desde tempos imemoriais, há conhecimentos específicos que foram criados pelos autóctones, reservados aos iniciados, mas a maior parte e talvez o corpo principal são derivados de uma série de influências dos povos do norte da África e do Oriente Médio sobre os autóctones. Conforme as fontes históricas de que dispomos, ao contrário do que ocorre hoje em dia, os povos da Europa eram plenamente receptivos a influências estrangeiras. O que lhes viesse em auxílio, o que lhes fosse útil, seria muito bem recebido em sua cultura.

É um pouco difícil aceitar este fato vivendo na sociedade atual, mas o imperialismo cultural ao qual buscamos até certo ponto resistir parece ser um legado do cristianismo, haja vista que, mesmo em Roma, antes que o cristianismo fosse declarado religião oficial do Império, os povos conquistados tinham plena liberdade de culto e de expressão cultural, sendo observados, mas não inibidos, de agir conforme suas respectivas tradições.

Noutros locais, fora do alcance de Roma, os árabes praticamente destruíram a cultura persa por acomodação natural, não os tendo jamais subjugado; no Egito, mesmo sob a coroa de Akhenaton (Amenhotep IV), posteriormente intitulado o faraó maldito por declarar Aton como Deus único e absoluto, os templos de outros deuses continuaram abertos, muito embora, por motivos óbvios, os nobres tivessem deixado de contribuir para sua manutenção; ainda no Egito, em período diferente, mesmo o povo judeu, mantido em cativeiro, não era forçado a aceitar os deuses egípcios.

Então, ouso dizer que a bruxaria foi plantada fora da Europa, no norte da África e no fundo (leste) do Mediterrâneo, e que aquilo que muitos acreditam ser "o saber dos povos do campo", na verdade é a tradição e vivência de mistérios muito mais antigos, cujas raízes devem ser buscadas ainda mais longe. Mas este é um tema cuja profundidade pede mais espaço. Fiquemos, então, com este pensamento final: dizer que a bruxaria surgiu na Europa é como dizer que a macumba surgiu na Bahia. 
                                                                           Egoísmo é Ignorância

"Asa de morcego, pele de cobra. Foi só isso que aprendeu Morgana, fazer poções e pequenas maldades?"

Este é o início do primeiro diálogo da cena 28 de Excalibur, versão cinematográfica do clássico medieval "A Morte de Arthur", de Sir Thomas Malory, falecido em 1471.

Muito mais atual do que gostaríamos, o mesmo triste julgamento que Merlin faz de Morgana, nesta versão cristianizada de mitos ainda mais antigos, faço eu, Taliesin, versão original de Merlin, ao observar representantes de grupos autodenominados bruxos exaltando os benefícios pessoais da prática da bruxaria.

Façam isto para aquilo, cultuem A para conseguir B, ofereçam tais e tais agrados a determinados seres incorpóreos e recebam deles maravilhosos brindes!!! Um verdadeiro show de oportunidades.

Parece que estamos assistindo a uma propaganda de TV.

Bem, talvez não seja de TV... Mas que não é o caminho bruxo, disso tenho certeza.

Não há diferença significativa, senão para pior, entre discursos de barganha como esses e o determinismo científico ou mesmo a pregação cristã, que apresenta a salvação eterna como recompensa e o sofrimento eterno como castigo. Chegamos a ouvir da boca de algumas pessoas travestidas de bruxos e bruxas palavras e expressões que vibram no mesmo diapasão das de pastores evangélicos, como, por exemplo, "contribuição", "culto", "bem e mal", "A Deusa enxerga dentro de seu coração e Ela vai saber", "oferendas"... A meu ver, uma antiga contradança de ameaça com negociata.

Bruxos fazem magia, mas não é a magia que faz de alguém um bruxo; nem, tampouco, nos prostramos humildes aos pés dos Deuses buscando covarde e egoisticamente suas graças. Convivemos com as Deidades e se temos algo a lhes pedir, pois bem, pedimos. Mas não é nem o interesse no lucro nem o medo do poder divino o que move um bruxo. Estar entre os Deuses já não nos seria o bastante?

Ainda assim, somos bruxos porque somos, porque este é o nosso caminho. Ser bruxo não é deter um determinado conhecimento sobre a Arte, ser bruxo é ser humano e ao mesmo tempo reconhecer e buscar ocupar seu lugar no Todo; é dançar a Dança da Deusa, pura e simplesmente seguir o curso que lhe é reservado, cumprir o destino pessoal, descobrir-se parte de um contexto imensamente, incomensuravelmente maior que os interesses pessoais; viver como humano, mas buscar sempre uma harmonia entre sua existência e o Cosmo; aceitar ser engolido, acolhido pela Terra para dela fazer parte. Ser bruxo é deixar se desfazer no ar; caminhar sobre as brasas; flutuar sobre as ondas e se banhar sob as cachoeiras.

Porém, conforme afirma um ditado chinês, "há pessoas que pescam peixes, e outras que só turvam a água." Reúnem multidões cada vez maiores e ali multiplicam sua ignorância; ao invés de se colocarem a serviço do Todo, buscam se apropriar de suas partes. Roubam "contribuições", vendem "ordenações" e, a preços módicos, negociam seus feitiços, oferecendo assim a seus concorrentes, outros conhecedores de rudimentos da Arte igualmente ignorantes, material mais que suficiente para lhes causarem malefícios por motivos igualmente mesquinhos.

Mas, o que fazer?

É um fato que pedra pomes flutua na água e, segundo um ditado japonês, "quando as pedras nadam, as folhas afundam."

Mas que bruxo é esse que cita sabedoria oriental ao invés dos "cânones" neo-pagãos?

É um bruxo que vê a si mesmo de algum ponto inexistente, ponto este que se encontra fora do multiverso, e dali enxerga universos, clusteres, galáxias, sistemas e um planeta Terra sem as fronteiras criadas por elucubrações maquiavélicas.

No seguimento anterior à passagem de Excalibur citada no início deste artigo, Merlin abandona Arthur à sua própria sorte no auge de sua crise. Em suas palavras, lhe diz que a Era dos Deuses se foi, e que a Era do Homem se iniciava. No seguimento posterior, Merlin se vê subjugado e imobilizado por Morgana.

Hoje os tempos são outros, a Era do Homem, caracterizada pelo determinismo, materialismo, individualismo, oportunismo, apropriação da natureza e dos homens que dela aparentemente deixaram de fazer parte, a verdadeira Era do Egoísmo e da acumulação de riquezas chega ao fim de seu curso. O modelo se esgotou, a crise abraça o globo, a natureza responde às agressões... É hora dos bruxos e bruxas ressurgirem, porque o destino dos Homens está próximo a se cumprir.
                                                                      Caridade às Avessas
Tão valorizada e elogiada nas mais diversas religiões, a caridade, quando dada a quem pede costumeiramente, pode ter conseqüências diametralmente opostas a o que se espera. Ao invés de dar fim ao suplício alheio, realimenta o processo e o mantém por meses, anos, vidas, gerações.

Quem ainda não se deparou com um pedinte ou um vendedor que apela para sua caridade, alguém que pede ou vende alegando estar passando por dificuldades e sofrimento, sempre se apresentando como uma vítima das circunstâncias?

Racionalmente, diríamos apenas: O que tenho com isso? Se não posso afastar o sofrimento dos milhões de miseráveis que passam diante de meus olhos, por que eu ajudaria qualquer deles em especial? E se eu der o que me pedem hoje, o que será do amanhã? Continuarão pedindo e pedindo? Mas ao ver outra pessoa em situação difícil, a solidariedade que muitos julgam sublime às vezes emerge dentro do ser humano e, cheios de compaixão, muitos atendem ao pedido.

Entretanto, ao invés de tal doação encerrar o problema, o pedinte recebe o que lhe é dado e imediatamente depois bate à porta vizinha, repetindo suas lamúrias. Se nada ganha, maldiz o "insensível" e politicamente incorreto que se reservou o direito de se negar a contribuir com a mendicância.

Se por um lado o senso comum já considera óbvio que mais vale ensinar a plantar do que entregar o grão colhido, venho chamar a atenção para o prejuízo que os pedintes causam a si mesmos e a quem pedem ao repetirem suas queixas por horas e horas e horas, por se acharem sempre vítimas, não buscando uma solução efetiva para suas respectivas condições e por cultivarem e espalharem a tristeza e o ódio.

Pactue com a doação a quem não busca soluções, empreste seus ouvidos a queixas e onde pensa que poderá chegar?

O mundo tem a cor dos pensamentos de quem o vê; rosa para o apaixonado, vermelho para o irritado e cinza escuro para o deprimido, dentre muitas outras cores e matizes e seus sentimentos relacionados. Alimente seu pensamento e seu coração com o sofrimento e não conseguirá se desvencilhar dele; dê ouvidos a lamúrias costumeiramente e estará dando um impulso para que sua vida se torne sem cor, triste e problemática como a dos que lhe pedem.

Por milhares de anos as mais diversas religiões vêm pregando a caridade, mas vejam o que fez a caridade sem critérios: criou multidões que passam seus problemas adiante, tornando-os problemas de todos, diluindo sua responsabilidade e cruzando os braços para qualquer atitude construtiva, multidões de coitadinhos que sempre serão coitadinhos, porque é assim que se sentem e é assim que esperam ser tratados. E nesta verdadeira epidemia que é a profissão da miséria, contamos mulheres com obesidade mórbida pedindo comida, jovens bem mais fortes que nós pedindo dinheiro e crianças das mais diversas idades pedindo balas.

Isto é necessidade?

Não, isto é uma doença perpetuada pelas "boas ações" impensadas. 
Espero que gostem e formulem suas criticas,duvidas, informações pois elas serão preciosas para estudo da origem da Arte, sei o que eu postei será de informação muito boa  e desde já agradeço a Ordem Sagrada De Bennu com qual eu tirei estes textos de grande valia, e gostaria de perguntar o que a Wicca acha da Bruxaria Ancestral......Obrigado..........

                                                 Bençãos Do Casal Divino
                                                                                 Roda do Ano não é Ano!    
        No dia primeiro de maio celebramos, no hemisfério sul, o Tempo dos Idos (Samhain para a tradição celta) e assim completamos a Roda. A analogia com o fim de ano é inescapável, mas acaba por perverter o verdadeiro significado da Roda. Aliás, a própria expressão "Roda do Ano" já é uma carona em um conceito que não deveria ser evocado. Vejamos o por quê.

O conceito da Roda está estritamente vinculado à concepção de um tempo cíclico, um eterno recomeçar. Já deve ter ouvido isso, mas, desta vez, não se apresse, atente para o que quer dizer o verbo recomeçar, trata-se mesmo de um começar novamente, não de um "terminar um para começar outro". Observamos e queremos observar novamente as mesmas estações, os mesmos solstícios e equinócios, os mesmos sabates, os mesmos florecer e perecer dia após dia, repetindo o eterno ciclo.

O ano, ao contrário, calca-se no conceito de tempo linear. É tomada uma referência no tempo e se conta um ano, mais um ano, mais um ano, e o tempo se acumula, e jamais retorna. Assim o fazem os cristãos, os judeus e os muçulmanos, para citar as religiões com maior número de adeptos no ocidente, representando o meio em que fomos criados e, portanto, as tradições das quais tendemos a absorver conceitos mais fácil e sutilmente.

Como, entretanto, um ano gregoriano coincide com o período de uma volta completa da Terra ao redor do Sol, e esta inter-relação Terra-Sol é o que determina as estações, o número de dias de um ano é equivalente ao número de dias de uma Roda.

Será?

Não. Todos se esquecem de contar o período de interstício. A Roda termina na noite do dia trinta de abril, e só recomeça na noite do dia dois de maio. Durante este período de três dias os véus entre mortos e vivos se levantam justamente por estarmos fora do tempo, em conseqüência, fora do espaço, fora da Roda, num limbo entre universos paralelos.

Você pode não acreditar nisto em absoluto, e ignorar o período de interstício; pode acreditar e querer escapar de encontros desagradáveis, como ocorria com os antigos profanos, que esculpiam seus nabos (posteriormente substituídos por abóboras) e neles colocavam velas acesas, para projetarem bocas e olhos monstruosos que afugentassem os espíritos que estivessem vagando; pode ainda desacreditar, querer ver e não conseguir ou acreditar, querer ver e conseguir, mas quer ocorra a comunicação entre diferentes planos durante o interstício, ele faz parte do conceito de Roda que chegou até nós, e denuncia que ano e roda não coincidem nem mesmo em número de dias.

Ora, dirão alguns, o que importam três dias diante de trezentos e sessenta e cinco ou trezentos e sessenta e quatro? Os solstícios e equinócios são marcados pela posição do Sol em relação à região da Terra onde se comemora o sabate, e são estes eventos astronômicos que causam a passagem das estações e, por sua vez, a passagem das estações que causa o ciclo.

Muito bem, esqueça o interstício, se assim o desejar, mas se prestar atenção em todos os argumentos apresentados no parágrafo acima notará que no ano seguinte não haverá um novo solstício, mas o mesmo solstício, não será um novo fenômeno, um novo fato, mas a repetição do mesmo fato. O mesmo vale para os equinócios, sendo um solstício e um equinócio com tendência de dias maiores e outro solstício e equinócio com tendência de dias menores. Sempre as mesmas posições relativas, sempre os mesmos fenômenos repetidos eternamente. Então, meu caro amante de astronomia, por que acrescentaríamos um ano sobre outro se anos forem apenas registros de voltas em torno do Sol?

Não, o ano cristão, aquele tomado como referência comum, não é nada além de um aniversário, e nada tem a ver com os ciclos do Sol ou da Lua em relação à Terra, como se costuma pensar a respeito dos calendários gregoriano e juliano, respectivamente. O cristianismo, o judaísmo, o islamismo, todas estas religiões, tiveram um início e, à guisa de contagem do tempo, comemoram aniversários de eventos que lhe são caros ano após ano, representando em suas cifras a idade de suas crenças.

O que nós temos a ver com isso?

Alguns pagãos chegaram a sugerir que acrescentássemos vinte mil anos à data cristã e apresentássemos nossa própria contagem, como indicação das origens e idade de nossa própria crença. Seria justo se nos preocupássemos com o decorrer dos anos, mas o que queremos é que as estações continuem se sucedendo, ano após ano, que a Roda, a mesma velha e antiga Roda, continue girando. E isto, considerando o que vem acontecendo com o clima global em decorrência do insaciável materialismo e profundo antropocentrismo da civilização atual, não é querer pouco...

Ao invés de novas conquistas e mais acúmulo, desejo aos colegas de caldeirão um feliz recomeço no Tempo dos Idos. 
                                              Nos Braços dA Deusa ou A Deusa em Nossos Braços?

Já viu alguém defender a natureza? E respeitá-la? Alguém declarar seu amor à natureza é lugar comum, mas ver alguém efetivamente defendê-la e respeitá-la é muitíssimo mais raro do que parece.

Bruxos não fazem proselitismo, respeitamos as escolhas alheias. Sabemos que conselhos jamais atingirão alguém com tanta eficácia quanto o aprendizado através da vivência pessoal, portanto, costumamos poupar nossas palavras àqueles que estão ávidos por elas e prontos para assimilá-las rapidamente. Por outro lado, o respeito ao livre-arbítrio não pode se converter em eterna indiferença e tolerância diante de certos descompassos aberrantes entre discursos e ações. Ouvir alguém defender a natureza enquanto a agride leva à confusão. E a incoerência não é apenas uma confusão, ela é uma mentira aplicada contra o próprio pensador que funciona como uma âncora, tanto para si quanto para sua platéia, contra o movimento em direção à visão clara. Um dos valores mais presentes nas diversas tradições bruxas vivas é o respeito aos seres vivos e à natureza de forma geral. De roldão, a busca pela reintegração do homem à natureza, a reinserção do ser-humano no universo e a percepção de que a Terra é uma entidade viva (teoria da Terra Gaia) da qual o ser humano não é mais que um elemento, estão na ordem do dia de qualquer bruxo, pretenso bruxo ou pseudo bruxo.

Vivas ao discurso, mas e a prática? O que vem depois? O que vem junto? Como tais oradores, articulistas e autores de livros de bruxaria ensinam através de seus atos como se harmonizar com o universo, como dançar a Dança da Deusa? Vão além da pantomima ritualística pública a cada sabate e esbate, além da divulgação de roteiros e receitas? Ao menos nos rituais, públicos ou privados, agem em coerência com os elevados valores que professam? Lamento informar que o que podemos constar entre bruxos das mais diversas tradições, e sem sinais de arrefecimento, aponta em sentido diametralmente oposto. O que temos visto, desde sempre, são flores arrancadas impiedosamente para presentear a Senhora de Todas as Flores; o consumo de carnes sob o esquecimento doloso da agonia em que é transformada a vida e a morte de bois, aves, peixes, crustáceos e o que mais tenha o azar de cair nas "boas graças" do paladar amoral do homem; a domesticação de cães e gatos que são tratados como deficientes mentais ou como escravos, ou ambos, por seus auto-intitulados "donos" (Uma palavra mais fidedigna seria "carcereiros"). Nada mais que ecos ao infinito da crença cristã de que a natureza está aí para servir ao homem, aliada ao postulado místico-biológico que afirma que o ser humano é mais evoluído que "os animais", que por sua vez são mais evoluídos que os vegetais.

Quanto a este último ponto, não só identificamos em atos, mas ocasionalmente temos o desgosto de presenciar arraigadas defesas orais e escritas por parte de membros da comunidade bruxa que em nada se afastam das teses científicas mais abjetas, calcando a fraudulenta tese da superioridade humana na presença de características que, a priori, só o homem teria. Como se outros animais não tivessem características exclusivas, como se as características humanas fossem distintivos de superioridade...

Argumentos como estes nada mais provam do que o fato de o ser humano ser o mais humano dos animais.

Ora, se acreditamos que o ser humano é o topo, é o máximo, se a função da natureza é servir ao homem, se somos aqueles que têm o direito e o dever de determinar a vida de outros seres (e determinamos, miseravelmente, que bilhões de animais devem viver e morrer em condições degradantes para puro deleite gastronômico humano), como podemos nos integrar à natureza? E, no sentido inverso, se tratamos animais domésticos como eternos bebês humanos e/ou como escravos, que integração é esta que estaríamos buscando?

Para ser possível ao menos buscar a integração é indispensável entender-se como parte de algo maior, mas o que vemos o ser humano fazer, e aqui se incluem pretensos ecologistas, digam-se bruxos ou não, é reproduzir com uma leve alteração a tão mal compreendida recomendação de Francis Bacon que, num momento infeliz da história, declarou que "a Natureza deve ser torturada e forçada a revelar seus segredos". É literalmente o que fazem hoje homens das mais diversas posições ideológicas, torturam e deformam a natureza para forçá-la a atender a seus próprios interesses. É isto o que entendem por se integrar? Por caminhar com a natureza? No máximo abrir mão de certos luxos tecnológicos e colocar a natureza a seu serviço? Não estariam, assim, fazendo o inverso, integrar animais e plantas ao seu mundo?

Sei que as crenças de pretensa superioridade humana vão fundo, sei que pedem muito mais do que um leve pontapé como este para que haja uma tênue chance de forçar a reflexão. Então, me alongo um pouco mais e deixo algumas perguntas:

Para a ciência, o homo sapiens sapiens é reputado existir há não mais que 150.000 anos; a civilização, há não mais que 8.000 anos. Há diversas tradições místicas e/ou religiosas que postulam ser o homem muito mais antigo, mas não há motivos para confundir o "homem" com o corpo que ele habita; e quanto às origens da civilização, embora a própria Ordem Bruxa deste autor seja uma das que defendem a idéia de ter havido civilizações anteriores, não consta que alguém afirme ter havido coexistência entre sapiens sapiens e os dinossauros. Portanto, podemos presumir que todos concordarão que muito antes do surgimento/manifestação, na Terra, do tipo de inteligência humana que conhecemos atualmente, os dinossauros se mantiveram no topo da cadeia alimentar em todo o Globo por cerca de 300 MILHÕES de anos, mas foram extintos, segundo as teses mais aceitas, pela queda de um meteorito na península de Yucatan.

1- Qual o sentido de ter havido dinossauros e de estes terem dominado a Terra por tanto tempo se a existência de dinossauros não é pré-requisito para o surgimento do homo sapiens sapiens? É sensato pensar que a manifestação do universo só passou a fazer sentido com nosso surgimento?

2- Se aceitamos que nossos espíritos são imortais, por onde andavam nossos espíritos na época em que sequer os mamíferos haviam surgido na face da Terra? Ou nossos espíritos foram criados há apenas 150.000 anos?

3- Se somos assim tão evoluídos e inteligentes, por que a civilização que conhecemos surgiu há apenas 8.000 anos se nossos corpos já são os mesmos há 150.000 anos e nossas almas sempre foram as mesmas?

Recentemente (há alguns anos) fragmentos de um cometa caíram em Júpiter. Se tivessem caído na Terra, provavelmente não haveria chance de sobrevivência para os humanos, assim como aconteceu com os dinossauros há milhões de anos. Tempos depois, um grande asteróide roçou a atmosfera de Marte. Tais eventos são muito mais corriqueiros do que o vulgo pensa quando se amplia a escala do tempo, e as condições ambientais dos planetas é muito menos regular do que se imagina, por exemplo: Vênus, mais próxima do Sol que a Terra, e Marte, mais distante do Sol que a Terra, já tiveram oceanos de água, mas hoje são estéreis; a explosão de um supervulcão na Indonésia, há cerca de 65.000 anos atrás, praticamente eliminou a vida humana em todo o planeta; há um supervulcão em vias de entrar em erupção no noroeste dos Estados Unidos.

4- Sendo possível e mesmo provável a extinção total da vida humana com um simples evento astronômico banal, que inclusive já ocorreu na Terra em tempos remotos, como a colisão de um grande asteróide, ou a explosão de um supervulcão, faz sentido pensar que somos o ápice da evolução, que nada melhor virá senão a partir de nossos descendentes?

Toda estrela nasce, vive e morre, podendo, eventualmente, depois renascer. Segundo as modernas teorias astrofísicas, o destino do pequeno e fraco Sol (5ª grandeza) do sistema ao qual pertencemos, por exemplo, é transformar-se numa gigante vermelha, engolindo os planetas Mercúrio e Vênus e elevando a temperatura da Terra a ponto de evaporar toda a água dos oceanos. Depois, se encolherá e se apagará, se tornando uma anã-marrom. Na Via Láctea, nossa galáxia, outras estrelas, bem mais portentosas que o Sol que nos aquece, já explodiram, outras estão na iminência de explodir em supernova, criando nebulosas cujo tamanho supera de várias vezes a dimensão de todo este sistema solar, algumas podendo ser vistas a olho nu daqui da Terra. Bilhões de estrelas na Via Láctea e bilhões de galáxias no universo, cada uma com bilhões de estrelas. Corpos celestes das mais diversas espécies e formas, nebulosas, quasares, pulsares, buracos negros, buracos negros supermassivos, asteróides, cometas, anéis, luas, estrelas gigantes e anãs, marrons, brancas, azuis, vermelhas, todos dançando a Dança da Deusa a até possivelmente mais de uma dezena e meia de bilhões de anos luz da Terra em todas as direções e desde bilhões de anos antes do surgimento do homo sapiens sapiens. Ordens de grandeza antes inconcebíveis para o ser humano. 5- Diante deste tamanho e diversidade do Universo, é possível achar que o ser humano é o máximo da evolução e que nossa inteligência faz alguma diferença no cosmos mesmo que nos limitemos ao plano físico? Conduzimos ou podemos conduzir esta Dança?

Se, após tudo isso, ainda acha o ser humano superior, vale ainda lembrar que insetos existem há muito mais tempo que o ser humano; que se puséssemos em um dos pratos de uma balança todos os insetos e no outro todos os humanos, ela penderia para o lado dos insetos; que certos insetos, como os mosquitos e pernilongos, se alimentam do homem; que ácaros se alimentam de sua pele; que baratas atacam os depósitos dos humanos e diversas pragas atacam suas plantações; que apesar de muitos dos insetos e diversos animais prejudicarem os interesses dos humanos e transmitirem-lhes doenças, até hoje o homem não pôde afastar definitivamente tais ameaças; que vírus não precisam de cérebro para dizimar populações humanas inteiras e que, independendo da pretensa superioridade humana, ela não é argumento válido para que o homem prejudique os interesses de outros seres que não representam ameaça.

Nosso papel, nosso caminho, não é se achar o máximo e covardemente assassinar plantas, animais não humanos, mutilar lagos, rios e montanhas, tentar amoldar o universo aos nossos interesses; nosso caminho, o caminho que pregamos, é nos integrarmos verdadeiramente à natureza, reconhecendo nossa insignificância como indivíduos e descobrindo nossa importância como parte desta maravilhosa vida cósmica, que pulsa muito além do alcance das pretensões dos mais pretensiosos dos humanos. É hora de perceber que o mundo se divide entre aqueles que aceitam o convite da Deusa para dançar, seja bruxo ou não, e aqueles que tentam puxá-la pelos cabelos e forçá-la a dançar num ritmo caótico.